- Guilherme Turati
Dunkirk – A estrondosa representação da vida humana em combate

Dunkirk é uma experiência sensorial absolutamente esmagadora, cheia de uma poesia visual impressionante e uma tensão capaz de arrepiar os cabelos da nuca. Do quadro de abertura, você sente o curso temível pelas veias. O filme nunca para em propósito de desenvolvimento do personagem, o que é uma virtude aqui. Você é jogado no cenário sem qualquer experiência ou "motivo" para se importar com esses personagens. Todo o sentimento aqui é puramente visceral.
Você sente algo pelas pessoas em exibição simplesmente porque são pessoas, vidas humanas sendo forçadas por meio de horrores de guerra. Nolan não tenta fazer você simpatizar com personagens adicionando backstory. Você testemunha horror, testemunha a guerra, testemunha a humanidade. Este filme é de fato uma obra-prima, que prova que Christopher Nolan é mais do que capaz de atingir alturas cinematográficas incalculáveis. Sua direção é simplesmente extraordinária, preenchendo a tela com medo implacável e poesia silenciosa ao mesmo tempo.
Um filme de guerra tão pesado e humano quanto o clássico de 1985 Come and See. Porém, Dunkirk nos apresenta diferentes traumas e consequências da tragédia, desde a luta animalesca pela sobrevivência, onde toda sua humanidade e empatia parece ter se perdido em meio a tantos corpos largados na praia - como é mostrado em momentos onde soldados simplesmente tiram para si peças de roupas de cadáveres aos montes em sua volta - ou pelo personagem Alex, vivido por Harry Styles, que parece não se importar com nada além de sua honra e desejo impulsivo de se sobressair, até a desistência psicológica em meio a tudo isso e o medo da grande possibilidade de não retornar para casa.
O estreante Fionn Whitehead nos apresenta a parte mais pura e estável da trama focada nos combatentes, o jovem soldado é o único que ainda demonstra o mínimo de empatia e preocupação para com seus companheiros de combate em diversas situações, ele está ali justamente para dar a sensação de que haverá uma calma após a tempestade.
No seu núcleo, este é um filme de terror. Um filme implacável, opressivo, assustador, tenso e extremamente desconfortável, com um monstro sem rosto que persegue os nossos protagonistas. E, por ser esse tipo de filme, ele entrega o puro terror da situação bizarra e incompreensível que nossos protagonistas encontram com toda força. Somos confrontados com a inconveniência da vida humana.
Você sente medo, medo dos inimigos nunca mostrados, medo da inesperada catástrofe que parece nunca ir embora, medo por não saber o próximo passo, medo ao ouvir o alerta de bombas, medo por não saber quando tudo ficará bem.
Dunkirk possui uma estrutura não-linear que mostra três pontos de vista diferentes: ar, terra e mar.
Cada história é igualmente intensa, imersiva e realista. Ao contrário do último filme de Nolan, Interstellar, este filme é curto no diálogo que é eficaz para nos ajudar a sentir a mesma incerteza e paranoia que os soldados. A falta de diálogos é preenchida pelo ritmo denso, lento e tenso brilhantemente feito pelo mestre Hans Zimmer e pela composição visual de tirar o fôlego (o IMAX se provou um grande amigo do diretor nesse projeto). Há momentos em que tudo é construído simplesmente por foco em rostos apavorados e o tique-taque de um relógio ao fundo.
Assista na maior tela que você puder, você me agradecerá por isso depois.