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  • Foto do escritorJM

“Sou preta, sou branca, sagrada, profana, sou puta, sou santa. Mulher”

Sinuosidade melódica de uma mulher com olhar de menina, as curvas da voz aveludada de Ana Cañas explodiu em gritos do público. Foi na noite calorosa de uma quarta-feira (02) que aconteceu o show gratuito da cantora no estacionamento do shopping Flamboyant.

Um rock intimista com letras politizadas, encantadora pois transparece autenticidade: vibra seu poder com a essência de sua voz. Pra quem não conhece espere, ela irá chutar as regras sociais com o tom de um sabiá a cantar numa tarde ensolarada de domingo. Suas músicas são nada mais que manifestos, do poder da mulher, do pobre, do amor, do injustiçado. Ana consegue misturar as trivialidades da vida com o olhar cru de quem respira poesia pelo simples fato de ser.

A música tem um papel transformador na sociedade em que vivemos, e para Ana dissipar o feminismo com suas letras pode ser resumido na famosa frase de Nina Simone “como eu posso ser artista e não refletir o meu tempo?”. A música, de acordo com a cantora é um veículo a mais para se falar de política, de movimentos sociais, de tudo o que a gente precisa evoluir, isso não exclui o amor porém existem temas essenciais da existência humana que precisa ser abordados.

“Eu tô cercada de artistas que eu admiro e que são meus amigos por uma sorte dessa vida, Maria Lima que é percursora nesse feminismo, Ney Matogrosso, Arnaldo Antunes, Nando Reis, são pessoas que estão sempre militando nessas iluminações da mente, do espírito sabe? É um dever do artista”, conta Ana Cañas ao Metamorfose.

Estamos vivendo uma primavera feminista, a mulher não está se calando, e cada vez mais se grita revolta. Desde 2013 podemos perceber a crescente do assunto no mundo, e o florescer dele na arte - que nada mais é que o reflexo do próprio momento social, é o que a cantora transparece em suas composições.

“Eu acho que é fundamental a gente falar, o silencio sobre a violência de gêneros colabora para que os agressores ajam. A gente tem que sair dessa bolha, nós mulheres, a consciência masculina não vai se iluminar sozinha, é uma luta nossa, infelizmente a gente tem que exigir esse respeito, falar sobre isso, se impor. A gente quer ser vista como um ser humano, vocês que trabalham com o jornalismo independente sabem como a cultura é enraizada em valores que defendem a tradicional família e propriedade, a gente precisa quebrar com tudo isso, e essa luta vai vir dos lugares independentes: de manifestações como as nossas, como a de vocês e a minha”, explica Ana.

Quiçá, vivemos em uma era de esperança, as próximas gerações terão exemplos como Ana, as mulheres que compõe este querido site, Nina Simone, entre outras mulheres que gritam o próprio poder. Expor o sagrado feminino, em diversas formas de protesto, é o que irá conscientizar e mostrar o novo para as próximas gerações, é o que conta ao Metamorfose os companheiros de banda de Ana.

“Eu acho que a gente tá nesse momento da história de libertação, não só das mulheres, a sexualidade e as relações entre gêneros estão cada vez mais sinceras e livres de amarras, estamos vivendo nossos tesões. Pra mim é muito rico essa convivência com a ana, porque ela fala disso abertamente” explica Menon – baixista. “Eu tenho uma filha mulher, e acho muito foda que esse espaço comece a ficar maior e balança penda pro outro lado pra que todo mundo escute, até que a mulher volte pro lugar que ela nunca deveria ter saído: o equilíbrio. Agora tem que falar mesmo, cutucar a ferida, todo mundo tem que olhar pros seus machismos”, continua Estevan, guitarrista.

A arte, de fato, tem o poder de mudar o mundo. E, a esperança é o sentimento que acolhe o coração humano, o que eu senti em todo o show na quarta feira passada em que Ana e sua banda tocaram não só com amor e animação, mas sempre deixando a marca política que é se expressar sem medo de ser.

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