Marcus Vinícius Beck
Relato sobre a má fé dos empresários do transporte
Ônibus lotados e perigosos. Assim são os veículos do coletivo que circulam diariamente pela região metropolitana de Goiânia. No entanto, as empresas que operam o transporte público na capital (HP e Rápido Araguaia) não agem com transparência. Aliás, os burocratas de lá fazem de tudo, de tudo mesmo para ludibriá-lo.
Vou contar-lhes um episódio que aconteceu comigo recentemente. No exercício da atividade jornalística, que, por sua vez, precisa contar com o direto de acesso à informação, deparei-me com um questionamento: por que os CityBus sumiram de Goiânia? Ora, vamos apurar, não? Sim, era isso que qualquer jornalista minimamente responsável faria. Foi o que fiz.
Criados em 2009, os ônibus tinham a promessa de ter mais conforto, preço acessível e acesso a internet. Passados oito anos, nada disso ainda aconteceu – e certamente nem acontecerá. Todavia, era preciso mostrar à opinião pública a razão pela qual isso não chegou a acontecer. É muito caro? Qual é o custo destes ônibus? Por que demoram para passar nos pontos de ônibus? Constatei, na Praça Cívica, que estes coletivos – que estão longes de serem públicos – levam de 40 minutos a uma hora para passar nos pontos. Os ônibus convencionais, porém, também estão longe do ideal.
Descobri, neste emaranhado de informações, que as empresas que detém a licitação para operar no transporte de Goiânia não contam com assessoria de imprensa. Bem, então, peguei o telefone do veículo para o qual trabalho, e disquei para a HP transportes: “Sou repórter, e estou fazendo uma matéria sobre transporte público. Gostaria de algumas informações...” Não consegui nem concluir, e fui imediatamente cortado. Eu vertia a raiva. Cordialidade é mínimo.
“Amigo, a gente não possui essas informações”, declarou o interlocutor. Sim, ele nem deixou-me finalizar minha legitima indagação de jornalista. “Tá, obrigado pela atenção. Boa tarde”, falei, colocando o telefone no gancho. Sem dúvida, o próximo passo seria ligar para a Rápido Araguaia, que é do grupo Odilon Santos e que põe nas ruas os piores ônibus transportar pessoas. Confesso que até hoje continuo terrivelmente obcecado pela explicação que o infeliz me deu.
Tttrrrriiimmmmmmmm... “Grupo Odilon Santos, boa tarde”, apresentou-se voz. Era uma moça. Expliquei que eu gostaria de falar com o departamento financeiro, pois estava produzindo uma reportagem, que sairia no final do dia, sobre transporte público. Ela me pediu para aguardar em linha. Tudo bem, pensei. E lá fiquei, por uns cinco, seis minutos, ouvindo uma versão horrível de Let ti be, dos Beatles, no bipe. De repente, um sujeito se apresentou: “Em que posso ajudar”. E, novamente, continuei meu monólogo de apresentação.
“Jovem, infelizmente, a gente não passa essas informações via telefone”, esclareceu. Instantaneamente, bradei: “Tá, e como eu faça para conseguir essas informações?” Na verdade, eu queria saber duas coisas. Primeiro: por que os CityBus sumiram das ruas? Segundo: quantos ônibus a Rápido Araguaia possui? Ora, com esses números facilmente eu poderia traçar o grau da parvoíce dos empresários do transporte. “Você terá de vir aqui, porque não passamos essas informações por telefone”, afirmou o cara.
Burocracia. Vamos lá. Cheguei ao fotógrafo do jornal, e expliquei que ninguém deu informações via telefone. “Vamos lá, então”, sentenciou. Eram 15h. No carro, durante o trajeto, fiquei pensando em alternativas, caso eles não me atendessem.