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Paladinos da ética e seu jornalismo de cliques

É hilário o modus operandi dos barões da mídia em Goiás. Constantemente, eles põem-se como arautos da moralidade, da ética e zeladores impiedosos do bom jornalismo. Na prática, não é exatamente assim. Longe disso. Preocupados com a máxima “O leitor não está preparado para isso”, os veículos vendem-se para um estilo de jornalismo que deveria ser repudiado por quem preza pela ética no ofício e nas relações humanas.

Gritar. Bradar. Distorcer. Esses verbos poderiam ser a ação do clássico filme de Orson Welles, mas nada mais é do que o fabuloso delírio dos operários das palavras, em Goiânia. Sedentos por quinze minutos de fama, figuras carimbadas em jornalecos irrelevantes à opinião pública vão às redes sociais clamar por qualquer espécie de polêmica, e esquecem-se de alguns preceitos que lhes foram ensinados durante suas formações, tal como as esferas profissionais, públicas e íntimas – tidas como um dos preceitos da ética pós-Revolução Francesa, onde selara o Estado Burguês, portanto berço de nossa formação humana e social.

Lamentável. Porque neste limbo o leitor é visto como um acéfalo, mas eles defendem piamente em suas retóricas esse mesmo leitor. Vai entender…

Jay Gabsty, personagem do romance O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, era pobre e conseguiu ascender para a classe mais abastada da população. Sua riqueza, porém, suscitava falatórios: diziam que Gabsty tinha feito fortuna na Lei Seca, durante a década de 1920 nos EUA. No entanto, ele era diferente de todos aos burgueses que estavam ao seu redor. Ele dava festas homéricas em sua residência com um único motivo – fazer com que Daisy, seu amor, fosse a uma delas.

O que tudo isso tem a ver com imprensa, o leitor deve estar se perguntando? Tudo, apreço-me em responder, antes que você tire conclusões precipitadas. Os jornalistas em Goiás veem-se como intelectuais burgueses, mas são incapazes de compreender a função social de sua profissão e, certamente, nunca ouviram falar da máxima de José Hamilton Ribeiro, um dos jornalistas mais importantes que já atuaram nas redações brasileiras: um bom jornalista é, antes de tudo e sobretudo, um ser humano humilde e simples.

Para esses “jornalistas”, contudo, a prática profissional serve apenas para amaciar o ego do patrão – dos poderosos, daqueles que detém o dinheiro e fazem o negócio da imprensa ficar aberto.

Considerando-se uma solução para o pobre e esdrúxulo modelo pregado pelos jornalões, radiões e televisões, o site Metamorfose repudia veementemente toda e qualquer forma de desonestidade – seja intelectual, humana, psicológica. O site também acredita que as informações, como está assegurada na Carta Magna de 1988, deve ser direito de todos, independentemente de classe social, credo e etnia.

Atualmente, o poder está nas mãos do tucano Marconi Perillo (PSDB) e sua metralhadora de cédulas que compra o lead e sublead, fazendo com que tudo saia da melhor forma possível nos noticiários locais. A imprensa não critica a fracassada política de segurança pública do peessedebista, não critica a perda do passe livre, nem nada do tipo. Tudo é na mais singela camaradagem. No âmbito econômico, por sua vez, os meios de comunicação reverenciam os “altos índices de emprego” gerados pelo Estado, e, frequentemente, coloca-o como a surpresa no Brasil.

Em Beijo no Asfalto, o dramaturgo Nelson Rodrigues retratou uma mídia que é sedenta por dinheiro. Quando Arandir dá um beijo num atropelado e toda a imprensa carioca vai ao local, Nelson personificou o que guiaria o noticiário anos depois. O Jornal Opção, por exemplo, neste domingo (27) traz a matéria em que afirma que a vencedora do Big Brother Brasil perdeu “boa parte de seu dinheiro”.

Evidentemente, o interesse público é altíssimo. É o tipo de notícia que faz a esfera pública, caro Habermas, girar. Risos. Calma. O jornal Opção, além de posicionar-se como um paladino da moral, não pratica nada mais do que um jornalismo marrom – aquele que era colocado em prática no início do século XX, e visava unicamente o lucro.

Isso sem falar nas condições de trabalho abaixo da ideal a que estão submetidos milhares de profissionais. Estagiários, que são respaldados pela Lei Federal 11.788, são tratados como profissionais, e cobranças ocorrem como se estes tivessem registro profissional.

É comum de se ver chefes lhes explorando, pondo-os para trabalhar mais do que as quatro horas previstas e resguardadas por lei. Também é comum de se encontrar exploração de mão-de-obra barata e qualificada – estudantes, vale ressalvar, estão se preparando para amanhã serem bons profissionais (ao menos é isso que se espera deles).

Neste bojo, a palavra “crise” é alardeada aos borbotões por canastrões em redações. Mas o que de fato enxerga-se é uma desculpa ancorada na ideia de crise o “jornalismo no mundo todo vive em crise”. De fato, o modelo tradicional pode estar sucumbindo à crise, mas relegá-lo a segundo plano, como fazem os barões midiáticos, é no mínimo uma atitude desonesta de quem não prioriza o pleno funcionamento da democracia.

Uma democracia só funciona se os poderes são independentes e a imprensa goza de autonomia para fiscalizá-los. Caso contrário, tudo o que é ensinado nas faculdades de jornalismo não passa de uma mera falácia de professores que não pisaram em redações. O jornalismo em Goiás está respirando por aparelhos, e faz tempo. Mas poderosos fingem que está tudo bem.

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