- Rosângela Aguiar
Liberdade de expressão X opressão
O que? Quem? Quando? Como? Porque? Onde? Perguntas básicas que aprendemos a fazer nos primeiros dias do curso de jornalismo. Perguntas que nos acompanham por toda vida de jornalista. No entanto, jornalismo não se resume a estas perguntas. Se faz com pesquisa, com leitura, com questionamentos; com o exercício diário da auto crítica; do escrever e reescrever; da ética, não só profissional, mas da vida, pessoal; na busca eterna pela imparcialidade.
Busca sim! Somos seres pensantes, com ideologias próprias e eu, mesmo que um determinado assunto vá contra a tudo o que pensamos e acreditamos, precisamos questionar, sair da zona de conforto, olhar pelo olhar do outro, tentar entender e reproduzir o fato, o assunto, a notícia. É buscar a imparcialidade para que o leitor, ouvinte, telespectador ou internauta possa tirar suas próprias conclusões.
A reportagem do colega e professor Rogério Borges sobre os 100 anos da Revolução Russa fala de história, sem juízo de valor, sem exaltar ou condenar. As conclusões do contra ou a favor ou “muito pelo contrário” é de quem lê. Vai da interpretação de cada um. Não há julgamento. Ali estão fatos. Está a história que revolucionou não somente a Rússia, mas mexeu com o mundo todo. Isto para mim é jornalismo.
Peguei este exemplo do colega goiano para falar de outro, paulista. Diego Bargas, demitido recentemente do jornal Folha de São Paulo. Demitido por questionar com maestria Danilo Gentilli, colocando-o numa saia justa com perguntas bem elaboradas e baseadas em fatos atuais. Resultado, esta “celebridade” não gostou, foi para as redes sociais criticar o jornalista. E o repórter foi demitido em um ato que nos relembra o que aconteceu nos árduos tempos da ditadura militar, do cerceamento da liberdade de expressão e imprensa que tanto se apregoa e se defende, inclusive Danilo Gentilli com um filme que, ao meu ver, não traz nada de bom. Não vi e não vou ver pelo que vi do trailer e pelo título. Um desserviço à educação de crianças e jovens.
Eu fiz questão de assistir a entrevista na íntegra e não vi ofensa por parte do repórter. Aliás, ele se quer retrucou quando foi agredido verbalmente com ironia por Danilo Gentilli, o que considero ali um ato de assédio moral pela forma como a “celebridade” interpelou o repórter. Lamentável este fato e mais lamentável ainda por ser um fato cada vez mais corriqueiro.
Nesta era virtual que vivemos qualquer um se torna “personal influencer” e de qualquer coisa e sobre qualquer assunto. E todos apregoam e defendem a liberdade de expressão e de imprensa. Mas quando são criticados se sentem ofendidos e logo lançam mão do verbete “você sabe com quem está falando”, pedem a retirada do post, do texto, etc. E isto não é censura? Mas vejam bem, liberdade de expressão não pode ser confundida com libertinagem de expressão, com ofensas pessoais, preconceitos e etc. Esta é uma seara muito sensível e cara para nós jornalistas: liberdade de expressão e de imprensa.