Marcus Vinícius Beck
Uma crônica molhada ao uísque para a mulher de trinta anos
Amigo bebum, puxe uma cadeira e sente-se, por favor. Não há nada mais deslumbrantemente belo do que a postura de uma mulher de mais 30 de anos. As lolitas, que iluminaram a cachola de muito escritor que estava na merda, como este humilde proletário do texto, são um pouco garota encrenca. Sofrer por uma garota de 20 e poucos é um exercício quase sadomasoquista, o cotovelo chega a ficar vermelho, de tanto mantê-lo escorado naquela bodega da esquina, chorando ao som de Lupicínio Rodrigues.
Dói, como dói, e tudo o que está ao teu alcance é deixá-la ir, hombre de diós. Deixe-a ir, meu filho. Seu Xavier, atrás mais uma Brahma, preciso molhar a palavra para contar o resto da história.
Pois é, bêbado, e com o tesão borbulhando nas veias, cheguei perto de Patrícia, 41, e teci um comentário desprezível – do tipo “nossa, tu tens um olhar de águia”. Notei no canto de sua boca um leve sorriso e, para tentar trazer um ar menos cretino à situação, acendi um cigarro. “Sabe, eu nunca tomei um porre na vida”, revelou ela, que ainda era Arquiteta, eita perfeição!, e que estava em seu ápice poético.
Dane-se aquela baixaria bradada no vestiário da pelada dominical, na mesa do boteco e após a derrota do seu time do coração. Mulheres com acima de 30 anos, para parafrasear Balzac, um dos padrinhos jornalísticos e literários deste escrevinhador barato que vos enche a paciência toda sexta-feira, estão no auge filosófica e sexualmente. Ao contrário das mais novas, que tem sede de viver, as mais velhas adoram uma conversa prolongada, sem compromissos e com muito rodeio – não estou dizendo que não há exceções entre as mais novas.
Na última quinta-feira (1°), comemorando o aniversário de uma amiga, escorado e bêbado de uísque e cerveja, deparei-me com uma mulher loucamente linda, e que deveria ter mais de trinta anos. Era Patrícia. Não tive outra reação: passei horas e horas conversando com ela. Esqueça da idade, lembre, meu caro, da tal da gostosura, da beleza e ponto. Ou vais dizer que Sônia Braga – mesmo após quatro décadas da épica fita Gabriela, Cravo e Canela – não é uma deusa?
Por isso, o que mais espanta-me nelas, é que, de repente, elas percebem que são balzaquianas. Todavia, poucas leram o tal livro do mestre francês. Inegavelmente, uma mulher que está na casa dos trinta possui atrativos irresistíveis, são capazes de pôr fim a uma guerra, por exemplo. Mudando de assunto: outra trintona deu vida à literatura, no século XIX. A famosa Madame Bovary, protagonista da clássica obra homônima, chocou a prosa burguesa no período pós-revolução Industrial, recomendo piamente a leitura.
Bem, o que preciso dizer – a todo custo – é que uma mulher de trinta já passou por inúmeros episódios em sua vida. Alguns, é verdade, bem tristes. Outros, nem tanto.
São raras uma mulheres que passam por essa fase sem findar um casamento, ainda bem! Talvez elas não achem isso, mas nesta fase da vida estão mais bonitas. Desfilam como se fossem uma métrica que integra um poema de Vinícius de Moraes, embora a tendência é que estejam terminando uma tese de mestrado ou doutorado nessa altura da vida.
Nobre leitor, pergunto-lhe: existe algo mais excitante do que uma Arquiteta ou Socióloga marxista? Creio que não. E Balzac, também.
Quanto a Patrícia, bem, minha memória teve um ‘apagão’ repentino. Esse negócio de uísque é foda. Abraços. Até a próxima semana.