Marcus Vinícius Beck
Previdência, a perversidade da vez

As Reformas Trabalhista e da Previdência pretendem agredir o proletariado brasileiro. Mas para entendê-las faz-se necessário retroceder um pouco no tempo, e voltar ao fundador do PSDB, Franco Montoro. Dele, dizem estudiosos, vem a tal da política neoliberal, que passou, ao longo dos anos, a tornar-se o cerne da ideologia tucana. Essa precária financeirização do capital e, por conseguinte, da mão de obra barata, que encontramos na periferia do capitalismo, é uma das características mais perversas desta forma selvagem colocada em prática com figuras como Margaret Thatcher e Ronald Reagan e embasada em Milton Friedman.
Os mais ‘cultos’ e elitistas, pasme, estão inteirados na missão de excluir direitos conquistados após muitas lutas por parte da classe trabalhadora, vide Comuna de Paris, no final do século XIX, e vide a paralisação no ABC paulista, em meados da década de 1970. É fato que esse pessoal de terno e gravata, donos da ordem do discurso, querem impor goela abaixo condições precárias e insalubres de trabalho. Para conseguir a adesão da população, eles vão aos meios de comunicação e, através de ‘especialistas e dados do FMI e Banco Mundial, arrotam que a única saída para superar a crise’ e elevar o índice de desemprego é o flerte descarado com a política neoliberal.
Trabalhador é bagaço, pensam eles. E, por isso, desejam lhe suprimir o domingo, agora, dá para crer? Sim, de agora em diante o trabalhador será alugado. O proleta deverá economizar para ter sua futura aposentadoria assegurada – sim, daqui para frente o que mais tem se falado é sobre os longos anos que será preciso para garantir o direto à aposentadoria. Eles dizem que a ‘reforma’ da previdência era necessária para o Brasil. Até faz sentido. Porém, o que está longe de ter sentido é a tal da ‘modernidade’ da previdência, arrotada pelos canais de comunicação por meio do discurso de magnatas incultos e igualmente canalhas.
Além disso, com a Reforma da Previdência, o tempo mínimo de contribuição aumentará de 15 anos para 25 anos. O problema que se vislumbrará no fim do túnel é a quantidade exorbitante de trabalhador que procurará trabalho informal. Fora outros que chegarão aos 65 anos sem conseguir comprovar os 25 anos de contribuição. Em suma: o Projeto de Emenda a Constituição 287 (PEC) atingirá aqueles que, historicamente, estão à margem do status quo. Por isso, além de limitar canalhamente o acesso à aposentadoria, a proposta de Temer reduz o valor dos benefícios e, com isso, deixa os mais pobres extremamente desamparados.
Marx tinha razão: as ideias não existem para serem separadas da linguag
em. Nietzsche, idem: a linguagem traduz o pensamento. Ora, com base nestes dois gênios do século XIX, o século das trevas, da Revolução Industrial, vê-se que, de agora em diante, o trabalhador terá de ter forças para ser explorado até não aguentar mais. Afinal, pergunto-me, o que é um trabalhador? Simples: Para o capitalista, o que vale não é o trabalho, e sim o trabalhador. O velho Marx tinha, mais uma vez, razão: os proletários do mundo possuem a revolução nas mãos, mas são saqueados diariamente. É inaceitável aturar, de boca calada, os desmandos de Temer e sua corja. Pensemos nisso.
A verdadeira história, como diz o sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcellos, é a seguinte: o povo tem de ganhar mais e trabalhar menos, bem menos. E, caso seja necessário protestar, nada melhor do que ficar em casa cultuando o ócio, curando a ressaca e lendo livros. Afinal, um trabalhador de ressaca e ocioso está lutando e protestando contra o capitalismo e, diante disso, fazendo com o que patrão lucre menos. Já diria a crônica etílica.