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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Dói ouvir “você é um babaca”

Amigo sofredor, não há nada que dilacere mais o coração de um homem do que amor não correspondido. É uma dor que machuca, mas não dói. É um fogo que arde, mas não se vê. O sujeito chega a ficar estranho, esquisito, insuportável – como essas anáforas roubadas de Camões. Brada aos borbotões impropérios na mesa do boteco, ou para a mina, como se ela e todos os outros a tua volta fossem obrigados aturá-lo.


Ninguém, por tudo que é mais sagrado, consegue trocar mais do que meia dúzia de palavras com o infeliz, sem cogitar a hipótese de furar os tímpanos, ou socar a cara dele. Inclusive, conversar com um cara em estado sentimental pútrido, é um esforço que deixaria o mestre-mor da crônica apaixonada, Antônio Maria, com os olhos arregalados de espanto.


Vamos e venhamos, essa coisa que a turma da psicologia saudável discorre para torrar nossos ouvidos é uma tremenda falácia – sim, pode berrar xingamentos a este humilde cronista que vos batuca à retina semanalmente, pessoal que prima pela saúde.


Ao sofrer um pé-na-bunda, o que a gente aprende se consolida por meio do som de um Odair José, de um Waldick Soriano, de um Robertão – das antigas -, de um Antônio Marcos, de um Chico Buarque, de um Taiguara, de um Fagner, de um Tim Maia... Me dê motivo!


Ah, pode ser um Elvis – Costello ou Presley, tanto faz, como sopra-me o velho Reinaldão Moraes – uma Elis Regina, uma Ella Fitzgerald, um Lou Reed, um Rolling Stones, um Elton John.


Este calejado e lesado cronista crê veementemente que o amor dói mais do que qualquer dor física, vide o gênio Maria. O homem morreu de tanto amor, acredita? É uma dor que cega, deixa o sujeito perdido no meio da escuridão – desculpe pela pífia metáfora, caro leitor.


Todavia, a gente está careca de saber que apenas um chifre, daqueles que machucam mesmo, humaniza um homem que acredita ser o dono da verdade e do mundo. Aliás, a mulher sempre, em todas as vezes, terá razão quando te disser para maneirar com o ego, ouça-a.


Sabe o que é pior: para curar a dor do amor, ao contrário da boa e velha ressaca, que se cura com outro pileque, não existe analgésico. Aquela pontada no peito te dilacerará como um carro que encontra o poste às 4h da madrugada.


Mas a velha máxima do botequim do seu Xavier e dos puteiros é um bom atenuante nessas horas: se a vida dói, drinque caubói. A lupcínica vingança, de acordo com o pai espiritual desta coluna ordinária, Xico Sá, também acalma o monstro, a monstra dor de cotovelo.


“Você está puto comigo porque eu não fui parar em teus braços”, asseverou ela. “Sempre você tenta me iludir, acha que sou burra”, completou, deixando sua imagem fixada em minha cabeça.


É, não existe amor tranquilo. Se for amor mesmo sempre rolará um desassossego – foda que alguns machuca-nos a alma, cortando-a ao meio, e tudo o que podemos fazer é sentar e refletir – de preferência com um Fagner na caixa de som.


Já diria Paulo Mendes Campos: “O amor acaba”. Até a próxima semana.

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