JM
Animal Político

O vazio da alma assola os reles mortais na experiência viva de existir em sociedade civilizada é retratado com simplicidade, humor e metáforas no filme Animal Político. Tião é um diretor em ascendência na cena independente do cinema de Recife, sua cidade natal, seus curtas tiveram críticas impressionantemente positivas nos festivais e seu primeiro longa-metragem Animal Político deu o que falar no 19° Festival de Tiradentes.
Afinal o filme é uma espécie de Sessão da Tarde que vai a Dostoievski e Nietzsche, como descreve o próprio diretor. Por quê? O filme é uma sequência de planos 'simples' que se passam em shoppings, academia, supermercado, cenas corriqueiras e comuns no dia-a-dia, a diferença é que o personagem principal é uma vaca, e a história é narrada em primeira pessoa.
Tião consegue transpor a crise existencial que nós seres humanos passamos, a vaca tinha tudo: boa condição financeira, vários amigos, uma família carinhosa. Lhe faltava o que os poetas dizem ser combustível para a alma. Após aturar a angústia por um tempo a vaca decide partir para uma jornada sem rumo em busca do autoconhecimento. Parece familiar? Deveria ser o enredo é narrado em diversas obras ao longo da história cultural, é o vazio existencial que impulsiona a raça humana a consciência e quiçá ao desenvolvimento da civilidade.
Um filme poderoso, com críticas profundas a nossa sociedade de consumo desenfreado e olhos cegos pela ignorância coletiva, um filme que te deixa uma pulga atrás da orelha "será que somos apenas animais políticos?" afinal, somos animais não é mesmo?
Um excelente exemplo da soberania brasileira nas produções independentes e um impulso para ficarmos de olho nas produções pernambucanas que a cada dia invadem os corações dos cinéfilos de nosso país. Se você é daqueles que solta a famosa frase "o Brasil não tem cinema que presta" tome cuidado, você não busca no lugar certo. Saia do cinema convencional e vá em festivais independentes, aproveite e se delicie com as obras primas que andam sendo produzidas por nossa querida juventude.