JM
Feministas de tons pastéis
Música melódica. Um indie com letras profundas e que fariam Belchior chorar, com berço em Brasília e cores pastéis. Natália Carreira é uma cantora e compositora que lançou seu primeiro EP - ‘Pertencer’, em Goiânia no dia 25 de novembro no Evoé Café com Livros.
E você acha que a brasiliense viria a terra do pequi sozinha? Que nada, chegou na terra do sertanejo com uma banda composta inteiramente por mulheres: Lorena Lima na guitarra e Aria Rita no teclado, as meninas fizeram um show íntimo e repleto de emponderamento feminino.
“As músicas que eu escrevo são para as mulheres, são sobre relacionamentos lésbicos e não teria nada a ver ficar andando com um monte de macho pra cima e pra baixo, sabe?” conta Natália. Mas pra quem acha que foi fácil montar a banda se engana, apesar de vivermos uma terceira onda do feminismo, o Distrito Federal e o estado de Goiás são lugares predominantemente machistas e é claro que isso iria refletir no cenário musical. Está cada vez mais fácil perceber a falta de bandas compostas somente por mulheres no cenário alternativo e no mainstream.
“Eu me esforcei muito pra achar mulheres, só me indicaram homens, e eu tive que buscar muito em Brasília pra achar meninas que tocassem guitarra”, relata Natália. E Lô confirma que não é só no cenário indie, no rock n roll não ta fácil também não. “Eu tenho um projeto paralelo mais voltado pro rock e cara, eu nem guitarrista sou, eu toco baixo, mas pra compor as bandas eu tive que tocar porque simplesmente não tem mana que toca”, explica Lorena. Já Aria conta que ela mesma conhece duas guitarristas mulheres, que tocam somente jazz e são mais velhas, profissionais com carreiras solo e quase nunca vê mulheres jovens tocando hoje em dia.
Conversa vai, conversa vem percebo que apesar de estarmos ganhando voz na sociedade, está cada dia mais difícil experimentar essa voz artisticamente por falta de opção, porém, se esforçar para que mulheres se juntem e façam projetos totalmente produzidos por mulheres é de suma importância para a continuidade da voz na sociedade.
O importante é criar uma rede, independente das nossas profissões, é dar espaço para que as mulheres possam mostrar que elas podem produzir qualquer coisa e que nós juntas somente ficamos mais fortes. É não dar preferencia somente aos homens por comodidade, pois essa ação reforça os mercados de trabalhos infestados pelo sexismo. “Todos meus eventos, coisas que eu preciso fazer e produzir eu busco mulheres, e quando não consigo eu pego viado entendeu? Tá rolando uma onda legal de feminismo e nos lugares onde a gente vai sempre rola uma mulher que quer lutar por essa ideia: eu quero contratar mulheres, mulheres querem ser contratadas e assim a gente cria essa cultura”, explica a cantora.
É claro que nós aprendemos a conviver com os homens e com as situações da sociedade patriarcal, mas trabalhar com mulheres trás uma vivencia completamente diferente, onde nós mulheres conseguimos nos entender através do respeito. “É uma experiência diferente mesmo, você se sente mais a vontade e a troca é mais fluída” conta a tecladista Aria. Já o público reage com identificação, Natália entende que seus fãs são majoritariamente mulheres e isso pra ela trás uma interação muito carinhosa, afinal, como não se apaixonar por o cabelo rosa, o sorriso simpático e a voz rouca com curvas aveludadas da cantora? “Eu me sinto muito fofa, todo mundo me trata com muito carinho e fofura. Eu amo isso, é uma troca muito sincera, não sei se eu teria essa troca com homens”, afirma Nat.
E pra quem tem curiosidade de ouvir o álbum segue o link: https://open.spotify.com/album/3g0Mi0Xe9M6aUxW20LmPWd?si=IypJLbEH