JM
O tempo acabou para aqueles que fogem da culpa
O ano que passou trouxe vários momentos de empoderamento feminino, mulheres de todo o globo tiveram experiências e conexões com o poder de dizer não ao patriarcado e suas práticas cotidianas. Essa nova onda do feminismo chegou na arte comercial, nós mulheres passamos a ter voz na grande mídia, as notícias sobre assédio não mais são esquecidas nas páginas dos jornais. O pus da opressão patriarcal está estampada no nosso cotidiano, e nas redes sociais.
Somos herdeiras da luta milenar das mulheres pelo mundo, sorte a nossa que hoje temos acesso a mais informações que no passado remoto. Fomos silenciadas com a ignorância, e a busca por exemplos de resistência nos leva a desabrochar todo tipo de movimentação que mostre as pessoas que essa cultura mata, machuca e oprime. E nós mulheres, não vamos mais aceitar caladas, como espera a sociedade esquizofrênica do poder desigual.
É em meio do caos que novamente a arte desabrocha em resistência, mulheres da nata do cinema estadunidense se posicionam contra o assédio com o movimento #TimesUp. Usando seu poder de mídia, combinaram de se vestir de preto no primeiro tapete vermelho de 2018 como protesto contra todos os abusos sofridos na indústria cinematográfica.
“Falar a verdade é a ferramenta mais poderosa que temos. Sinto-me inspirada e orgulhosa pelas mulheres que se sentiram fortes para compartilhar suas experiências”, assim começa o discurso de Oprah Winfrey, que subiu ao palco para receber o prêmio Cecil B. De Mille pelo conjunto da carreira. “Chegou a hora. Recy Taylor morreu sem ver isso. Mas time´s up. Só espero que Recy Taylor tenha morrido sabendo que sua verdade serviu, como a de tantas mulheres maltratadas durante estes anos ou que estão sendo maltratadas agora. Ela está presente aqui quando cada mulher diz: ‘Me too’. E em todos os homens que decidem escutar”, termina Oprah.
Recy Taylor é uma mulher negra que foi estuprada por 6 homens em 3 de setembro de 1944, no Alabama. Sua história é corriqueira, os homens que cometeram o crime até hoje não foram condenados, ela tinha apenas 24 anos e voltava da igreja. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, o abuso é segundo maior tipo de violência cometido no país. O caso lembrado por Winfrey poderia ter acontecido com qualquer uma de nós, em qualquer lugar do mundo, pois o patriarcado é uma estrutura social que assassina todos os dias, em qualquer situação e qualquer lugar.
Porém, uma coisa é certa: se até a elite midiática cansou da censura e está disposta a lutar por condições dignas de vida para as mulheres, segurem-se para o tsunami que irá atingir a sociedade patriarcal nesse ano de 2018. Nós mulheres não iremos nos calar, pode ser na rua levando tiro de borracha da polícia em protesto contra os retrocessos nas leis ou no tapete vermelho, estamos juntas em prol de melhorias.