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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

No verão, pede-se cerveja. E sexo

Amigo boêmio, com a chegada do verão o espírito etílico fica ainda mais aflorado na terra do pequi. O resultado da peregrinação alcoólica é o balcão de qualquer boteco com copos americanos sutilmente engordurados. Pode ser aquela espelunca da esquina, ou aquele bar no centro. Não importa. Mas evite a gourmetização. Porre digno se dá entre cadeiras de plástico vermelha, amarela e azul – menos as verdes, por móvitos clubísticos, que você já deve conhecer.


As noites de verão guardam boas pitadas eróticas e sensuais, que fariam o gênio apaixonado, Antônio Maria, bêbado profissa, o cara que morreu de amor, se estender no chão tomado pela lamuria.O ano vem começando cada vez mais cedo, antes do último beijo do Carnaval os burocratas já estão discutindo novas formas de encher os bolsos com cédulas de 100. As engrenagens do desespero alimentam de ansiedade os cérebros dessa gente. Em clima de ansiedade, viva a ressaca como antidoto à mais-valia.


Meu amigo, nesta crônica trarei algumas coisas imprescindíveis da noite goianiense. E, para iniciar o ano com o ano pé direito, pois vivo sem futebol, mas não sem mulher, nada melhor do seguir o infalível ensinamento das entidades boêmias: escolher a dedo a cadeira em que vai sentar no bar. Ora, ela pode passar triste – não importa a época, sempre há um sujeito para fazê-las chorar – e escolher parar em teus braços. “É que meu samba me ajuda na vida/ minha dor vai passando esquecida/ vou vivendo essa vida do jeito que ela me levar”, canta Benito di Paula na junkebox.


Sentado na primeira mesa da calçada, um brotinho que lembrou-me a crônica homônima de Paulo Mendes Campos passa por entre as mesas. Imediatamente, puxo a armação de meus óculos que estavam na ponta do nariz e viro o rosto, maravilhado com aquela delícia de ser humano que caminhava esbanjando charme e ternura. Dean Moriaty do Cerrado, rapidamente, destila um de seus comentários, qualificando-me como um canalha mor à lá Paulo César Pereio – o último dos homens que merece respeito.


Levantei-me em direção ao banheiro. Ela estava no caixa, conversando com o cara que atendia ali. Sorri e continuei caminhando. Ao voltar, não a vi. Sentei-me à mesa, e todos começaram a tecer comentários jocosos acerca de minha postura. Ignorei-os. Falei algo relacionado ao Corinthians, e vozes uníssonas tomaram conta da mesa. Eis uma verdade: se mulher é fundamental para a sanidade de um homem, futebol é indispensável. Atualmente, o único certame é a Copinha, que já começou e não exige concentrações longas no bar da 12 antes da pelota rolar.


Mas, para lembrar sempre, mulher é metonímia, parte pelo todo, você passa a apreciá-la por uma boca, um pé, um seio, uma orelha, uma mão, um sorriso, um olhar, uns olhos, um cabelo, um poema, uma poesia, um filme, um livro, uma manifestação, um joelho, uma camiseta revolucionária, umas uma bunda, um umbiguinho... “Já tive mulheres/ de várias idades e muitos amores/ com umas até certo tempo fiquei/ com outras apenas um pouco me dei”, vai que é tua, Martinho.


Já o futebol manifesta-se no sujeito durante sua infância. O cara apaixona-se por um time quando vê o craque, o 10 – que nem existe mais -, arranjar um espaço entre a zaga, aquela bola milimétrica que deixam os marcadores reclamando dentro de campo. Mas, para lembrar, futebol é metáfora, representa a vida figurativamente, você passa apreciá-lo por um lance, um grito, uma loucura, uma atitude de energúmeno, uma cabeçada, um gol, um berro de torcedor... “Brasil está vazio na tarde de domingo/ Olha o samba/ Aqui é o país do futebol”, sopra-me o ilustre Wilson Simonal.


Na boêmia de cada dia, a presença feminina, mesmo naqueles dias em que o cabelo delas acorda brigando conosco - e isso é mais lindo ainda - é fundamental. A conversa, o sentimento, o lirismo é a matéria prima deste miserável cronista de costumes, a primeira do ano. Viva o amor, o sexo, a boêmia de cada dia, de cada hora, de cada minuto, de cada segundo. Apenas momentos com os seres diferentes, que pensam e agem autenticamente, valem a pena. O resto...


O resto fica para a próxima crônica do louco amor e do lirismo boêmio. Viva o sexo, o beijo, o abraço, o amor, o carinho. Até o próxima sexta-feira. Feliz ano novo. Abraço.

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