JM
A censura da contra informação
Quando se pensa no desserviço promovido pelas assessorias de imprensa de vários órgãos públicos, especialmente de prefeituras e governo estaduais, ocorre uma inevitável reflexão: os donos dos jornais hegemônicos - e pequenos jornalecos - não primam pela qualidade jornalística, e sim pela verba no final do mês. Será que esses “parceiros” têm noção da responsabilidade social que o ofício possui, será que eles realmente preocupam-se com as condições trabalhistas ali?
Ora, é claro que não. É muito mais proveitoso omitir-se ante as barbáries que acometem a ordem institucional das empresas de mídia, gerando atrasos rotineiros nos salários dos articulistas, repórteres e editorialistas que bajulam os donos do poder. Se o lide, abertura da matéria como se diz nas redações, for negativo, pronto: a chefia irá rosnar palavras relacionadas a “problemas com o governo”, quando não pedir a “cabeça” do autor da matéria.
Mas, se, jornalisticamente falando, os chefes de ‘jornalismo’ das assessorias causam vergonha alheia nos colegas mais sérios, nos jornais ditos tradicionais a informação é lindamente enviada. Sem histeria, nem gritos. São notórios os casos em que os grandes, os denominados como poderosos, recebem alguma forma de privilégio. Se a censura na época dos militares dava-se por meio de censores, no momento dá-se por meio da grana. Governos sentados em cédulas bancam a vergonha publicada pelos jornalões e revistões.
No último final de semana, as revistas Veja, Época e Istoé coincidentemente publicaram as mesmas capas, sobre o mesmo assunto: a Reforma da Previdência, cuja provação popular não sustenta a própria matéria. O único diferencial foi a matéria principal da Carta Capital, veículo à esquerda que figura sozinho nas bancas de revistas, pois a Caros Amigos acabou na versão impressa e continua com a online. Porém sem o brilhantismo dos tempos em que era dirigida pelo jornalista Sérgio de Souza.
Outro fato, no mínimo inadequado, foi noticiado na grande mídia nesta segunda-feira. Reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo revelou que o braço direito do governo golpista, Romero Jucá, dirigia uma filiada da TV Band ,em Roraima.
Do ponto de vista constitucional, a prática configura-se contravenção e, portanto, é considerada criminosa. Moralmente, é vergonhoso, pois a liberdade de expressão, caso tal prática se consolide, torna-se profundamente agredida. No entanto, isso já virou regra no Brasil, vide as concessões distribuídas aos deputados e senadores, amigos, durante o governo Sarney, na década de 1980.
Não há problema nenhum em defender lados, inclusive é saudável para a saúde da democracia, porque a lógica dos magnatas da comunicação é mais ou menos a seguinte: te defendo enquanto estiver no poder, depois dane-se e eu apoio quem estiver sentado no trono do poder. Por exemplo, Chateaubriand fez isto com Vargas, depois quando o presidente optou por financiar o jornal Última Hora, de Samuel Wainer, Chatô passou a criticá-lo, sempre em defesa da ‘liberdade de imprensa’.
Por isso, o Metamorfose defende veementemente que o jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, conhecimento. Conhecimento acerca da contemporaneidade. Jornalismo também é contar histórias e defender interessantes genuinamente democráticos. O resto, de acordo com o mestre da imprensa nanica - como eram chamados os jornais de oposição à ditadura -, Millor Fernandes, é armazém de secos e molhados.