Marcus Vinícius Beck
É preciso discutir o comportamento da macharada

Jornal francês vai às bancas mais caro para homens no Dia Internacional da Mulher
Amiga boêmia, passe 45 minutos num bar copo sujo - de preferência quando os aparelhos televisivos estiveram ligados em Goiás x Vila Nova - e você verá como a tal desconstrução do macho ainda caminha a passos lentos. Nem é necessário chegar à décima garrafa de cerveja, ou ao primeiro gol do rival, para se constatar: os homens somos machistas.
Batuco esta crônica porque ontem foi o Dia Internacional da Mulher, e nem os tidos esquerdomachos escapam do atraso que permeia o comportamento da macharada desta terra em transe chamada Brasil. Aliás, algumas amigam disseram a este cronista que o tal do sujeito descontraidão é o que mais suscita desconfiança nelas. Garçom, mais uma por favor!
É, amiga, está cada vez mais complicado sustentar essa ideia de que estamos avançando na marcha da história. O que mais se viu por parte dos homens foram elogios momentâneos, típicos de quem deve na esquina, de quem solta piadas machistas quando está longe da amiga feminista. O macho é uma enganação, uma piada de mau gosto, um ser caricato, cretino e cínico.
Sorry, minha amiga, esta não é uma crônica das ilusões perdidas. Sigamos acreditando, mesmo que estatísticas como a publicada na edição de ontem de O Popular nos lembre a violência que assola as mulheres, e que muitas vezes as matam pelo simples fato de serem do sexo feminino. Repare, ora pois, nos depoimentos revelados em dezembro por várias atrizes estadunidenses: a macharada parece que se identifica com tudo que é retrogrado.
Ontem, o jornal francês Libération vendeu sua mesma edição 25% mais caro para mulheres em relação a homens. O motivo: conscientizar a sociedade da terra de Baudelaire de que é necessário, sim, debater as práticas machistas que são intrínsecas aos sexo masculino. A justificativa do jornal ainda perpassou pela discrepância salarial que há entre os dois gêneros.
Chega de bradarmos palavras desconstruídas na frente da amiga. Que fracasso coletivo somos. O momento não é de testosterona, no sentido de “bater o pau na mesa”, como disse o presidenciável de “esquerda” Ciro Gomes, o momento não é de se omitir ante as denúncias de assédio das minas que envolvem alguns engraçadinhos da cena “underground” de Goiânia, o momento é de adotarmos os ensinamentos do beat Lawrence Ferlinghetti.
Por fim, que boicotemos a banda de renome internacional que irá se apresentar hoje no Chorinho, no Setor Central. Vamos procurar um boteco pé sujo, pedir um rabo-de-galo e refletir sobre nossas praticas patriarcais do dia a dia. Até a próxima.