- Rosângela Aguiar
Medo....
Dia 5 de abril de 2018. Acordei com medo. Um aperto no coração. Mente confusa numa luta permanente pela sobrevivência e ao mesmo tempo inerte diante da própria vida. Diante das agruras impostas pelas conjunturas sociais, políticas, emocionais, judiciais. Me sinto presa dentro do meu claustro chamado Brasil! Uma prisão na qual já me senti livre para pensar e me expressar. Hoje temo por mim e pelos que me cercam. Sinto apenas medo. Medo de um futuro que achei que estava apenas nos livros de história, da minha história, da história do país onde nasci.
Nasci e cresci em uma época quando as liberdades eram restritas, quando predominava o medo que hoje me aprisiona. Vi a história da busca pelas liberdades acontecer diante dos meus olhos e participei quando já tinha idade para entender o que estava acontecendo. Lutei como pude e como estava ao meu alcance. Conheci as dores de pessoas que sentiram na pele, no corpo e na alma as dores desta luta. Chorei e ainda choro ao ouvir suas histórias. Tenho medo de sentir esta dor também e por isso sempre lutei pelas liberdades, por um país livre, por um mundo sem ódio, sem preconceito e onde todos têm os mesmos direitos e deveres.
E hoje vejo esta luta de milhares de pessoas, minha luta, ser jogada no limbo. E por isto tenho medo. Tenho medo da história se repetir, mas decidida a não me deixar ser dominada pelo medo. E sabe por que? Porque tenho conhecimento, tenho ideias, tenho sonhos, coisas que ninguém pode tirar de mim. Podem tolher a liberdade, mas não podem destruir sonhos, conhecimentos, ideias.
E tenho muito orgulho de ainda ter meus sonhos, conhecimento, ideias. Meu pai, um senhor de 87 anos, um homem conservador, sempre me disse que a herança que iria deixar para mim e meus irmãos era a Educação, o Conhecimento. Isto é libertador! Mesmo ele sendo uma pessoa conservadora em todos os seus posicionamentos, dos econômicos aos políticos, me ensinou a ser livre para pensar. Ao me dar livros e me ensinar a procurar o sentido das palavras em um bom e velho dicionário que ele chamava de "pai dos burros" me ensinou a pensar por mim, mesmo que meus pensamentos fossem contrários ao dele. Esta é maior herança que meu pai poderia me dar e tento usá-la com sabedoria.
Pensar por mim e não pelo o que os outros pensam, ter opinião própria e não ser "vaca de presépio" ou "uma ovelha" que segue em direção ao lobo. Pensar por si é para todos, desde que detenham o mínimo de conhecimento. E é isto que falta neste país: Educação. Os governantes que temem o ato de educar e garantir o livre pensamento temem a Educação, que é sempre colocada de lado, em último plano.
Eu também deixo para minha filha a mesma herança: Educação, conhecimento, liberdade de pensar, de refletir, de ter suas próprias ideias mesmo que discorde de algumas. A vida é feita do contraditório, essencial para que o pensamento flua, é a base de todas as teorias políticas, filosóficas, científicas. Se eliminamos o contraditório, perde-se a novidade, o conhecimento, a liberdade.
E é isso que vejo crescer no País, a perda do exercício do contraditório, do debate limpo, do pensar e refletir. Coisas que dão trabalho e é mais fácil viver como "vaca de presépio" do que pensar por si só. E assim muitos seguem o lobo sem saber que serão devorados ao final da história. Todos serão engolidos pela própria cegueira, uma cegueira movida pelo ódio.
Avante companheiros! Vamos lutar pela Educação, pelo Conhecimento, pela Liberdade plena e irrestrita!