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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Nosso amor

Nosso amor é a união, o calor, o tesão, o companheirismo, as nossas conversas.


Nosso amor é calmo, largou o automóvel e saiu andando pelas ruas; nosso amor é como um samba de Adoniran Barbosa, dói o coração, eita dilaceração no peito da porra!; nosso amor é um poema de Vinícius de Moraes, nosso amor é uma música do The Doors no autofalante do quarto.


Nosso amor, muito depois da transa, foi parar na literatura, no mundo das letras, da representação da vida.


Nosso amor são como as crônicas de Paulo Mendes Campos, nosso amor são os filmes de Godard e Truffaut, nosso amor são metonímias, a parte pelo todo, e metáforas, figuras de linguagem que criam imagens.


Nosso amor é como um cigarro queimando no cinzeiro, enquanto ouço tuas expectativas em relação ao futuro.


Nosso amor é como o fluxo de consciência de Lawrence Ferlinghetti, nosso amor são os haicais de Paulo Leminski, nosso amor é a prosa poética de Drummond, nosso amor são as sacadas de Rimbaud e Baudelaire; nosso amor é poeticamente sensacional.


Nosso amor, gatinha, foi retratado por este miserável escrevinhador, servo das letras e mulherólogo convicto, em jornais de grande circulação da terra do Pequi.


Nosso amor é eterno, é belo, é lindo, é maravilhoso, é delicioso.


Nosso amor, todavia, não consegue dormir direito desde que surgiu outro, nosso amor, minha companheira, precisa da tua presença, da tua luz, do teu olhar sinuoso e poderoso.


Nosso amor precisa que eu me esconda em tua saia hippie; nosso amor precisa de teus beijos, de teu abraço, de teu conselho, de teus grilos nas manhãs em que sou insuportável; nosso amor precisa de ideias malucas, como as que temos entre sonhos e delírios, entre versos e prosa, entre jazz e mantra, entre eu e você.


Nosso amor ouviu duras lições de gente frívola, essas, sim, não sabem o que é a vida, e adoram dar pitacos na dor alheia.


Nosso amor é como a boemia: intensa e apaixonante.


Nosso amor sabe tirar onda da desgraça; nosso amor é uma ficção, ou realidade lírica e épica; nosso amor é café puro, e esfriou ao som dos Beatles e Stones; nosso amor é sábio pra cacete.


Nosso amor, quem entende? Nossos dialéticos corazones marxista e bakuniano batiam o bumdo das contradições, do tesão, do desejo e, creio, ainda devem bater, não sei.


Nosso amor, lindamente, é bacana e menos apressado do que nós dois.


Nosso amor é eu e você abraçados no meio da multidão. Eis o nosso amor.

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