top of page
  • Foto do escritorJM

"Serviço de branco"

Picolé de asfalto, cabelo de assolan, betume, petróleo, macaco, cor de esgoto. Esses são apenas alguns exemplos dos muitos xingamentos proferidos à negros e negras no dia-a-dia. Sempre me colocaram no meio termo, era o moleque da cor de burro quando foge (seja lá o que isso queira dizer), o pardo, sendo "preto demais pra ser branco e branco demais pra ser preto."


Fora a pele menos pigmentada carrego comigo traços físicos de descendência africana: meu cabelo crespo, o nariz alargado e os lábios mais grossos. O que me faz ser negro obviamente, mas de certa forma ser mais tolerado em meio a branquitude. O movimento negro chama isso que eu acabei de descrever de colorismo.


Dentre alguns aspectos do colorismo está a tolerância a pessoa negra, mas não a aceitação. Aceitar significa reconhecer que existe diferenças e que este preconceito precisa ser superado. Na relação branquitude - pessoa negra de pele clara a escolha feita é a de ignorar os traços negros para imaginar aquele pessoa como branca e assim suportar sua presença.


O colorismo também gera conflitos dentro da própria comunidade negra, pois cria por vezes uma rivalidade entre os negros de pele mais escura e os de pele mais clara. Estimula-se a falsa ideia de que as pessoas de pele menos pigmentada não são negras ou ainda a ideia de uma escala de quem é mais ou menos negro baseado na pigmentação da pele.


Encurtando o papo: o colorismo é um instrumento de manutenção de espaços exclusivamente brancos utilizado pela sociedade racista, afetando diretamente a autoestima, as relações afetivas e o exercício da cidadania plena de pessoas negras. O único recado a ser dado é o seguinte: o inimigo é outro, e o que nos une é muito maior do que o que nos divide.


#ubuntu #4p

Logo do Jornal Metamorfose
bottom of page