Marcus Vinícius Beck
Quando o Vila Nova ganha
Amigo torcedor, amigo sofredor, quando o Vila Nova, o tigre da Vila Famosa, ganha Goiânia se torna mais alegre, mais feliz, mais intensa, mais poética; quando o Vila Nova ganha a boêmia fica mais agitada, mais animada, mais intensa, mais ilustre, com personalidades ilustres. O cara daquele boteco pé sujo da região norte fica sorridente, até esquece as dores de amor provocadas pelo pé na bunda que sua esposa, ou namorada, lhe deu.
Os ônibus andam mais rápidos quando Vila vence, porque a cabeça da massa proletária é o verdadeiro biodiesel que alimenta o motor dos veículos do transporte coletivo, o cabeleiro da Nova Vila, ali próximo ao Parque Agropecuário, tece as mais diversas piadas, sempre visando ampliar o leque de comentários e jogo de palavras, afinal o Vila venceu. Suspendam a luta de classes por 20 minutos na linha de produção fordista, tio Marx, porque os operários não vão para o trampo, uma vitória do Vila exige um porre homérico, daqueles que nos deixam reflexivos na manhã seguinte, quando acordamos com o teto girando, fígado baleado e pensamentos filosóficos na cabeça.
Tudo muda quando o Vila Nova sai da lama, baixa até uma espécie goiana de Charles Dickens, aquele inglês que escrevera sobre a Revolução Industrial no bojo das transformações geradas pelo capitalismo e impostas pela burguesia, vejo luzes cintilantes iluminando os corações, sentimentos e desejos dos mais diversos tipos de pessoas, até parece que ingeri um ácido potente ao melhor estilo Medo e Delírios em Las Vegas. Mesmo contra minha própria crença de energúmeno futebolístico, meu caro Gabriel Garcia Marques, assisti ao triunfo do Vila pela televisão de casa. O Ministério Público, pois é, determinou que os clássicos goiano devem ser disputado com apenas uma torcida.
Quando o Vila Nova vence, a cidade de Goiânia é quem ganha, o poeta do cotidiano Goiás, sim o homem torce para os moxés, compartilha ótimos conselhos e conta várias histórias com brilho nos olhos, brilho este que se encontra apenas durante um papo com os invisíveis da sociedade; a cerveja do eterno bar da 12 chega mais gelada e a pinga de canela mais saborosa, ainda que o Dono, seu Leandro, seja esmeraldino de carteirinha, daqueles que são chatos, sabe?
Os bares espalhados por vários cantos da cidade tocam clássicos de Leandro e Leonardo, Chrystian & Ralf e Bruno e Marrone quando o Vila Nova ganha. O Vila Nova é praticamente bíblico, é paixão, é amor, juro. Ontem, logo após o juiz decretar o final do clássico, vi um cara passar na frente do bar e gritar, com a veia saltada do pescoço, a seguinte frase: “Ganhou, meu Deus, que coisa sensacional, estou livre”. Vejam vocês: quando o Vila Nova ganha, o cara que não tem absolutamente nada na vida, se extravasa e encontra um motivo para seguir em frente.
Até agora, nem mesmo com o auxílio das tábuas dostoievskiana, nietzschiana, freudiana e jungiana conseguir decifrar o tal mantra do tiozão bêbado que passou urrando de alegria enquanto este escrevinhador que vos batuca confusões silábicas comprava um maço de cigarro e uma cerveja. Alguém se arrisca a responder?