- Júlia Lee
O que está rolando na água de Brasília?

Foto: Mídia Ninja
Esquizofrenias estéticas, pessoas iludidas no reflexo do absurdo. Quiçá seja somente a arte agindo sob os corpos almáticos com o tambor do vento.
Sopra-se o desconhecido e ele tem gosto de psicodelia à lá Joe Silhueta em plena segunda-feira do Bananada no complexo studio. São 20 anos de festival e para Fabrício Nobre, produtor do evento, "aconteceu uma transformação em toda a maneira de ouvir e consumir música. Isso mudou a geração completamente. Não existem mais fitas ou discos, poucos selos ainda continuam em pé. Então a música chega às pessoas por filtros mais amplos. Os festivais se espalharam pelo mundo e por todos os cantos da país. Essa dispersão trouxe diversidade na programação musical, além de oferecer outras experiências de arte e entretenimento que se relacionam cada vez mais com o local onde estão inseridos".
E de fato, o que se viu em aspirais vibrantes no inferninho mais central da cidade de Goiânia era o algo mais, talvez seja a água brasiliense que é propícia à expressão visceral da apropriação do cerrado. Gaivota, cantora do Joe Silhueta, com seus cabelos descoloridos e glitter nos olhos conta que "as letras do Guilherme Cobelo (integrante da banda) tocam de forma micro várias questões internas íntimas de todos nós seres humanos, independente de gênero, idade, cor.."

Foto: Mídia Ninja
Coincidência ou não, em Brasília, cidade com ruas largas e fantasmagóricas, surge a necessidade de reunir a efervescência cultural. Entre gargalhadas e histórias, Gaivota explica o trilhar para se chegar nessa noite de lisergia goiana, "rolou um momento que a gente começou a fazer muita jam e aí todas as bandas se encontravam de forma louca, a galera da Engrenagem que é instrumental, dos Voadores também que é uma banda meio 70's brasil tutti frutti, é muito foda essa sensibilidade de empatia com o outro, de troca. É um sequestro cara, a gente vive um cotidiano que nos deixa extremamente ansiosos, cheios de expectativas, de frustrações, e às vezes você tá passando e você é raptado por uma música. Caralho! Isso te tira de um mood bad e te transforma. É isso, arte é sobre isso."
E afinal, é o sentir no outro o próprio entendimento da vida, como disse a querida mulher purpurinada, "essa pessoa me entende porra! Eu to sofrendo disso saca, é uma revolução simpática! Sincera! Uma revolução amorosa porque vem da arte, do puro sentir!"
Joe Silhueta, uma daquelas bandas em que valeu a pena os 20 anos do Bananada, que apenas começou numa segunda feira cinza na Césio Town.