Marcus Vinícius Beck
Só quem tem amante no trampo ou faculdade curte segunda-feira
Eis que Xico Sá alertava isto para os amantes de firma em seu blog, na Folha, há três, quatro anos.
Mas é por aí mesmo: Só o desgraçado que tem um caso, na firma ou na faculdade, adora levantar da cama cedão, na segundona, para ir enfrentar a labuta diária. Seria justo curtirmos a morte prenunciada da ressaca no conforto da cama. Segunda – como domingo – é dia de curá-la, e não de trampar.
É, velho safado, os pombinhos sorriem na linha de montagem fordista e vivem um amor capitalista, onde os padrões – na maioria das vezes – nem desconfiam de suas intenções – e, comumente, ações. No capitalismo, amar não leva a lugar algum. Todo cuidado é pouco.
Segunda está para eles, como o ócio está para o escritor. Segunda é o dia sagrado dos amantes de escritório, redações, bancos, salas de aula, repartições, editoras, almoxariafados, restaurantes e maravilhas, como na música de Arnaldo Baptista.
Despois de esperarem incansavelmente o sábado e domingo, resignados a reflexões – coisa que raramente fazem -, os amantes de firma voltam para seus postos, ainda que a função que exerçam seja contaminada pela lógica burocrática, ainda que o único lampejo lírico na semana seja o almoço por quilo, ou o PF, na esquina.
As criaturas que têm amantes nas empresas seriam uma incógnita para o velho Marx e para o ilustre sociólogo De Masi – o italiano que escrevera Ócio Criativo. Seria o gozo da mais-valia que lhes fazem retornar ao trampo e assim produzirem de forma maravilhosamente alienada?
Que é isso, cronista demente. Amor e ideologia? Não combina, não.
Esse amor, seja de que forma acontecer, não deixa de ser belo, lindo e indispensável, pois quebra a corrente burra das empresas e a monotonia das salas de aula – que, convenhamos, não há como o sujeito sair bem formado da faculdade se nunca tiver tido um caso, enchido homericamente a cara ou fumado algum baseado com professor.
Porra. Chega. Só que queria dizer que é segunda e alguém está segurando a merda da folhinha de calendário, dando altas risadas. E você, boêmio de todo dia, vai para teu trampo, sem ter escolha.
Que a semana lhe seja breve. Com ou sem amante na faculdade e na linha de produção. Viva ressaca como contraposição ao capitalismo. Um beijo a todos. Ótima semana.