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  • Foto do escritorJM

Ilegal: uma máquina de triturar gente

Ao contrário dos desaparecidos da ditadura militar no Brasil, hoje temos uma forma jurídica a legitimar todo o massacre: arquive-se o ato de resistência. O pé de maconha apreendido na comunidade de Jacarezinho, na cidade do Rio de Janeiro - sede de intervenção federal, e que obteve grande repercussão nas redes sociais, sumiu misteriosamente do inquérito policial. Enquanto isso, Rafael Braga cumpre pena de reclusão, e foi condenado à 11 anos de prisão, por tráfico e associação ao tráfico, por portar 0,6 gramas de maconha e 9,6 gramas de cocaína - em um flagrante forjado. Nessa perspectiva, é fácil objetar que a maconha que o jovem fuma no conforto de seu apartamento, pode ter o gosto sujo de sangue negro.


A pena de policiais que torturaram Amarildo - ajudante de pedreiro e brasileiro que ficou conhecido nacionalmente por conta de seu desaparecimento, desde o dia 14 de julho de 2013, após ter sido detido por policiais militares e conduzido da porta de sua casa, na favela da Rocinha, em direção a sede da Unidade de Polícia Pacificadora do bairro - é menor do que o homem que plantou maconha. A verdadeira realidade funciona como um tribunal de toga máximo, a polícia militar determina nas ruas quem é traficante e quem é usuário, e uma nova lei de Execução Penal abordada em plenário federal, também passa essa decisão pelo magistrado tal ânimo. A lei de tráfico neste país é uma ótima desculpa para o encarceramento em massa de comunidades periféricas, são alvos móveis que balas perdidas costumam achar.


A Cannabis Sativa também perpassa pela discussão penal dos manicômios judiciários - intrínseco à pauta de saúde como direito fundamental -, lugar que sem sombra de dúvidas podemos afirmar que é lugar de tortura e morte. Em outubro de 2016, ocorreu uma rebelião de presos no Manicômio Judiciário de Franco da Rocha, na grande São Paulo, um ato considerado por muitos como legítima defesa.


Ao longo dessa história, a marcha da maconha foi o principal ator político a mobilizar a opinião pública para o debate sobre drogas, rompendo o silêncio existente sobre o tema, e que pode se considerada por muitos como uma discussão de cunho extremamente liberal. Errôneo estigmatizar uma luta que mata jovens negros sem nenhum precedente real de dados que possam confirmar um número, é desesperador.


Todo ano é colocado em pauta a votação pela descriminalização da maconha para uso próprio graças ao motor de ação social, as ruas, mas não dá para se refletir na inocência, não se trata de uma revolução da política de drogas, mas puramente de uma reforma. Entretanto, no país que 70% da juventude negra morre no contexto de guerra às drogas isso poderia ser não tão pequeno. Ademais, de perto a guerra é outra, na periferia ninguém fica inteiro, e muita gente segue desaparecendo.

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