- Rosângela Aguiar
O que fica do FICA para a Cidade de Goiás

Cortejo que aconteceu na noite de terça (05). Fotos: Júlia Lee
“Por favor, não faz isso não!”. Esta é a frase mais dita por Luzia da Rocha Leocádia. Há sete anos ela integra a turma do projeto FICA Limpo, que surgiu em 1999. Moradora de um bairro da periferia da cidade de Goiás, Luzia viu no projeto, como os outros participantes, uma forma de ganhar dinheiro extra e aumentar a renda da família durante os dias de festival. Para Luzia dá mais trabalho falar com o visitante do que limpar as ruas.
Novato nesta turma, com sorriso estampado no rosto, Luis Antônio também entrou no projeto para ganhar dinheiro extra, mas se orgulha de ver a cidade livre da sujeira durante o FICA. “É minha cidade, tem que ficar limpa, né?”, diz o catador que integra este trabalho há três anos.
Maria Lúcia está no projeto quase desde o início, há 17 anos e se orgulha do trabalho realizado e afirma que aprendeu muito. Hoje faz renda extra com a separação do lixo orgânico e reciclável em casa e na comunidade onde vive, no bairro Alto Santana, que fica próximo à Igreja Santa Bárbara.
Em comum, Maria Lúcia, Luis Antônio e Luzia têm o orgulho de deixar limpa a cidade onde moram, o aprendizado sobre reciclagem e a renda extra. E uma reclamação: as pessoas deveriam ser mais educadas. Como disse Luzia: “é um festival ambiental, né?”.
FICA LIMPO
Como resolver o problema de lixo durante o Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) na histórica Cidade de Goiás? Este foi um grande desafio que surgiu já na primeira edição. O jeito foi envolver a comunidade local, dando oportunidade de renda extra para famílias de baixa renda e contribuindo para a limpeza, em especial dos locais onde acontecem os eventos. E assim surgiu o Projeto FICA Limpo que em 2018 completa 19 anos.
Nesta 20ª edição foram distribuídas 40 lixeiras em locais estratégicos e o trabalho de 30 pessoas. As reclamações de moradores quanto ao lixo produzido ainda persistem, mas a limpeza destes locais depende também da conscientização de quem participa e visita a Cidade de Goiás durante os dias de festival.

“Por melhor que façamos um bom trabalho, ainda tem gente que vem para um festival de temática ambiental e joga o lixo no chão e não faz a separação entre o orgânico e reciclável”, pondera Gonzaga Antônio, um dos coordenadores do Projeto FICA Limpo. Há três edições acontece a separação do lixo com recipientes próprios para o descarte. Quem trabalha no FICA Limpo ainda tenta conscientizar as pessoas e vai fazendo um trabalho de formiguinha.
Este ano uma tenda na Praça do Chafariz será o ponto de coleta do lixo reciclável ou seco sob a administração do Projeto Sacolão Sustentável – Coleta Seletiva, de Goiânia. Para incentivar as pessoas o projeto propõe a troca de acessórios, resíduos secos e recicláveis e roupas usadas por alimentos e produtos. E ainda ensina a separar plástico, vidro, papel/papelão e metal. A AAMVISS – Associação Ambiental pela Vida e Sustentabilidade Social – fica na Vila Fores em Goiânia.
A conscientização ambiental é um trabalho de formiguinha, que tem que ser feito todos os dias e moradores e, em especial, os comerciantes já aprenderam a lição com o passar destas 20 edições do FICA. “Sempre peço para jogar a latinha de cerveja ou a garrafa de long neck no cesto de lixo. As pessoas atendem bem o pedido por que é um público diferente do quem no Carnaval por exemplo”, conta Wellington Barros da Silva, dono do Bar do Jesus, em frente à Praça do Coreto.

Seu Wellington Barros da Silva dando entrevista
Como muitos moradores, Wellington Barros e Letícia Cristina Brito de Assis, vendedora de uma loja de artesanato, reclamam que fora do Centro Histórico a cidade não anda nada limpa. “Na minha rua a varrição é duas vezes na semana e a coleta seletiva três vezes na semana e fica muito suja”, conta Letícia de Assis. Ela reconhece que a inciativa do projeto FICA Limpo é muito boa e reconhece que a comunidade têm fazer a sua parte.
O poder público local, segundo Gonzaga Antônio, fica encarregado da limpeza urbana de toda a cidade. “O projeto veio para somar e ajudar a manter a cidade limpa nos locais e dias de evento na cidade. O ante e depois é com a Prefeitura”, esclarece Gonzaga.
Em 2017, durante a 19º edição do FICA o projeto doou parte das lixeiras utilizadas para a Prefeitura de Goiás. “É mais uma contribuição do festival para a cidade”, ressalta Gonzaga.
E como acontece todos os anos, um cortejo com os trabalhadores do FICA Limpo saiu da Praça do Chafariz em direção à Praça do Coreto avisando que eles chegaram para deixar tudo limpo. Outra turma diretamente atingida por este trabalho de educação ambiental está nas escolas municipais e estaduais da Cidade de Goiás.

Crianças participam do cortejo com o FICA Limpo
DE PALCO DO FICA AO ENVOLVIMENTO DOS MORADORES
Ao final do primeiro Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) a histórica Cidade de Goiás ficou um verdadeiro caos, com muito lixo espalhado, em especial no Centro Histórico. A cidade foi um palco do festival e com pouco envolvimento da comunidade local. Já na segunda edição 30 moradores de baixa renda da Cidade de Goiás integram o grupo do FICA Limpo, projeto iniciado há 19 anos durante os sete dias do Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA). O festival está na 20ª edição e irá disponibilizar 40 lixeiras nos locais onde acontecem os eventos. O objetivo é reduzir o impacto ambiental da circulação dos visitantes na cidade. No entanto, fica o alerta: quem for a Cidade de Goiás deve fazer a sua parte também e colocar o lixo no local certo e ajudar o trabalho desta turma do FICA Limpo.
O que fica do Fica – Festival de Cinema e Vídeo Ambiental – para a histórica Cidade de Goiás? Uma maior conscientização ambiental e o aprendizado sobre a importância da separação do lixo reciclável do orgânico. E uma pergunta da jovem vendedora de artesanato, Letícia de Assis: “Por que as pessoas não jogam o lixo nos cestos?”