Marcus Vinícius Beck
“Minhas vendas aumentam 70% nesta época do ano”, diz artesã
Movimento nos comércios está abaixo do ideal. Comerciantes aguardam final de semana para aumentar vendas em restaurantes e bares

“Minhas vendas aumentam 70% nesta época do ano”. A afirmação da artesã Ana Carolina Silva, 19, não é tão fácil de encontrar na 20° edição do tradicional festival internacional de cinema ambiental. Apesar de o aspecto econômico pesar no senso de julgamento de pequenos empreendedores, os moradores da Cidade de Goiás em geral repudiam o evento e, para apenas um ou outro, os dias de agitação cultural são imprescindíveis para a antiga capital do Estado de Goiás, que recebe o Fica de braços abertos há 20 anos. “Nos primeiros três dias o comércio fica bem parado, mas depois movimenta”, afirma.
Os seis dias de festa não geram lucros aos cofres públicos, a cidade fica cheia e, para limpar o estrago, quem precisa se virar é a própria prefeitura, que deixa os vilaboenses a ver navios, conforme mostrou o Metamorfose (leia mais em “Fica é festival elitista”, afirma comerciante). Embora o tradicional festival de cinema ambiental tenha um lugar reservado no coração de cinéfilos, os problemas estruturais estão se tornando mais presentes. Os comerciantes não estão mais sorridentes em relação à movimentação e sequer confiam no discurso da prefeitura da Cidade de Goiás, o que pode ser constatado em uma rápida e descompromissada conversa em qualquer bar da cidade.
O dono de um boteco em frente a Praça do Coreto, Wellington Barros da Silva, 47, garante que “o movimento que rolava no passado era bem maior do que hoje”. Em contrapartida, ele reconhece que é praticamente impossível fazer críticas antes do final de semana, quando a cidade deve ficar cheia por conta do show da cantora Ana Carolina. “Antigamente, as pessoas vinham para cá e eu tinha três garçons para atender os clientes de manhã, que começavam a beber cerveja nesse período”, diz. Mesmo com bastante movimento esperado para o final de semana, ele não consegue ser otimista acerca das vendas. “Tá bem parado”, esclarece.
Sentada atrás do caixa, a cozinheira Vanda Soares, 47, não é pessimista e torce durante o ano todo para que chegue o Fica. Natural de Lisboa, capital de Portugal, ela diz que “o Fica é a galinha dos ovos loiras da Cidade de Goiás”. “Tenho um grupo de WhatsApp com todos os comerciantes da cidade e conversamos sobre nossa vontade do Fica começar logo para lucrarmos”, relata ela, que mora na antiga capital de Goiás há três anos e meio. “Sábado tradicionalmente é o dia em que mais recebemos pessoas para se alimentar no restaurante”.
Trabalho informal
Visando aproveitar o movimento provocado pelo Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica), os trabalhadores informais estão povoando os bares e oferecendo seus artesanatos, bolos e outras coisas para os turistas. A ideia é simples e possui caráter quase infalível, pois o alto fluxo de pessoas faz com que eventualmente alguém acabe adquirindo esses produtos. Por outro lado, quem trabalha com esses moldes não aproveita a festa da mesma forma que os credenciados ou qualquer outro que esteja em posição privilegiada socialmente.
O técnico em refrigeração, Marlon Luiz Moraes, 49, diz que a função do Fica, especialmente na periferia, é trazer emprego para a população de baixa renda. “O grande objetivo do festival, para quem o vê de longe, é gerar empregos, nem que sejam temporários”, afirma. Além disso, frisa ele, o festival cumpre a função de conceder emprego temporário para centenas de pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Mesmo que que tenha um caráter elitista, Fica é importante para esse grupo”, finaliza.