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  • Rosângela Aguiar

Governança transversal é o caminho para chegar a cidade sustentável


Sob a sombra de árvores quase centenárias, em um espaço aberto e acolhedor do pátio do Convento do Rosário na Cidade de Goiás, um debate que vem sendo feito desde o 1º FICA: "As novas Cidades". O local não poderia ser mais propício para a troca de informações com a arquiteta e urbanista paulista Marcela Arruda e o Coordenador do programa de PhD em Desenvolvimento de Cidades e Governança da Erasmus University Rotterdam (Holanda), Peter Scholten. Em um discurso único, que parecia combinado, ambos falaram da necessidade de uma maior integração das pessoas na cidade e com a cidade, além da transversalização da governança para conseguirmos ter uma cidade realmente sustentável.


A forma como as cidades foram sendo construídas ao longo de séculos, aliada ao avanço tecnológico em busca do viver bem, tem tido o efeito contrário, segundo Marcela e Peter, que apesar de serem de continentes diferentes, trouxeram para a discussão problemas comuns e soluções também comuns e aplicáveis a qualquer cidade, guardada as devidas proporções e cultura. Além de arquiteta e urbanista, Marcela Arruda atua desde 2012 com movimentos de intervenção urbana, gestão compartilhada e a construção do comum. Atualmente é coordenadora do núcleo de projetos do Instituto A Cidade Precisa de Você. Estudou Interactive Media Design na Royal Academy of Arts de Den Haag, na Holanda, terra natal do pesquisador de temas como desenvolvimento urbano sustentável, planejamento integrado e estratégias de liderança em ambientes de tomada de decisões complexas, Peter Sholten.



"Os governos precisam integrar todas as áreas, porque a ação de um impacta a do outro”, Peter Sholten.



Já não vivemos bem, temos o ar e os rios cada vez mais poluídos, já não conversamos mais uns com os outros, não trocamos saberes e perdemos várias oportunidades de realmente tornar as nossas cidades um lugar melhor para viver. Para Peter Sholten é preciso mudar a forma de governar. "Os governos precisam integrar todas as áreas, porque a ação de um impacta a do outro. Não podemos ficar nas nossas caixinhas, isolados".


Tanto Marcela Arruda quanto Peter Sholten ressaltaram projetos viáveis de ocupação dos espaços urbanos que podem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Telhado verde, horta comunitária em áreas abandonadas ou terrenos baldios nas cidades, envolvendo a comunidade local para o plantio; captação da água da chuva nas casas, prédios residenciais, públicos ou empresariais e sua reutilização nas plantas, na limpeza; uso de energia solar; separação do lixo e reutilização dos mesmos em composteiras que podem ser utilizadas para adubação das plantas e hortas; tornar as áreas urbanas mais permeáveis, deixando que a água da chuva penetre o solo, recarregando o lençol freático e consequentemente garantindo mais água para a população e evitando enchentes.


Estes são apenas alguns exemplos de como podemos tornar nossas cidades mais sustentáveis, o problema, como disse Peter Sholten, é a falta de apoio político, dos políticos, dos governantes, além da educação da própria população, em especial aas crianças, para colocar projetos de sustentabilidade, como estes citados acima, em prática. A adesão e participação das pessoas, com seus saberes, sua cultura e seu olhar da cidade, é fundamental para que estes projetos funcionem.


"Quando se olha para as cidades e sua sustentabilidade, vemos uma realidade muito complexa. E estamos em crise? Sim, sem dúvida. No entanto, temos o outro viés da crise, que é a oportunidade. E precisamos usá-la para mudarmos o rumo do caminho que estamos tomando em nossas cidades", alertou Peter Sholten.



“Cada local tem suas particularidades, cultura e saberes e precisamos usá-los”, Marcela Arruda

Marcela Arruda em palestra, Foto: Júlia Lee


Marcela Arruda ainda vai além e pergunta: "Que tipo de paisagem queremos para nossas cidades? A aridez do cimento ou o verde?". A arquiteta ressaltou que precisamos pensar a cidade a partir da permacultura, ou seja, tentar entender como funciona a cidade e seus espaços, pensar em uma cultura que permaneça, que se sustente e não que nasce, cresce e morre, assim como na agricultura comum e de grande escala. Este pensar serve para o crescimento das cidades. "Temos que pensar na continuidade, conectar os problemas e soluções locais. Ter um olhar sistêmico, integrado e articulado entre todos os setores. Não dá para resolver um problema e gerar outro", explica.


E ela levou o público a refletir e buscar o olhar de como se vive na cidade, como este modo de vida impacta cada indivíduo, como o indivíduo pode mudar isto e contribuir para esta mudança. "Agindo e pensando desta forma as pessoas se identificam com os problemas e soluções para a cidade ou localidade onde vive, porque cada local tem suas particularidades, cultura e saberes", exemplifica.


Que cidade você quer para viver? Como deseja que seja esta cidade e que forma poderá ajudar a mudar esta realidade? É possível tornar o bairro ou rua onde vive mais sustentável e mais agradável? A resposta dos palestrantes para estas perguntas é uma só: Sim, só depende de você.

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