top of page
  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Uma viagem de volta ao século XVII


Foto: Júlia Lee


Amigo leitor, por obséquio, é o seguinte: a segunda noite do FICA foi mais movimentada que a primeira. É verdade que ainda está bem aquém do que a gente espera, mas ontem já foi possível ver a galera bebendo uma cerveja com cachaça nas bodegas do Centro Histórico e ouvindo músicas de fossa, que iam dolorosamente de Fagner a Nelson Gonçalves. Haja dor de cotovelo depois do trampo!


A Cidade de Goiás, a exemplo de todas os outros municípios interioranos, sofre com o pouco movimento durante o festival, pelo menos foi o que presenciei ou que minha embriaguez me permitiu. Todavia, os proprietários dos botecos estão chateados, põe chateado nisso, uai. Ora bolas, com licença para usar tais ditados populares, a mão invisível do Temer está prejudicando completamente o comércio da histórica cidade goiana. Antes lotadas, agora as ruas estão vazias, solidárias.


Alvíssaras, camaradas! Na pinga de mutamba, o cheiro de diversão vale por mil caracteres que este escriba de quinta categoria redige durante o horário comercial: instiga a memória, o fluxo de consciência, a porra toda, em ritmo de repentista, coisa boa que só vendo. O cheiro das ruas, becos e vielas espanta toda essa tendência gourmetizadora que impregnou as capitais, embora espaços chiques também existam em Goiás Velho.


Ao cair a noite, o ímpeto boêmio dá vida ao encalorado Centro Histórico. Ontem, ao contrário de anteontem, estava mais alegre, mais vivo, mais sensual... em cada esquina era possível encontrar algum produtor do Fica bêbado na madrugada ou jornalistas torrando suas credenciais em quantidades mínimas de bebidas. Na verdade, durante o período em que acontece o Fica, ninguém mais sabe o que está rolando no mundo, pois o mundo é a tela do computador, as aspas, o lead e essa loucura toda que permeia o jornalismo.


Podemos falar tudo sobre Goiás Velho, menos dizer que é uma cidade parou no tempo. Para estes safras, o velho clichê da sensibilidade, aquele que você habitualmente chupa dos livros de literatura marginal, faz sentido: que Goiás seja sempre Goiás. Que seja leve e sinuosa. Que seja boêmia, culta, amorosa, linda... que seja Goiás. Que a noite hoje, assim como ontem, seja reveladora.

Logo do Jornal Metamorfose
bottom of page