Marcus Vinícius Beck
Sim, temos de refletir

Foto da mesa, Júlia Lee
Prezado leitor, venho por meio desta crônica, com uma felicidade tremenda, para dizer o seguinte: estou reflexivo em relação aos comportamentos machistas escrotos que adotamos ao longo de nossa criação. Digo isso porque ontem na mesa Mulheres no Cinema, do Festival de Cinema Ambiental (FICA), fui induzido a rever todos os meus deploráveis comportamentos. Aliás, antes de mais nada, já me vi cometendo sacrilégios imperdoáveis.
Embora sejamos responsáveis por parte boa dos crimes que tem como alvo a mulher, não é nada demais refletirmos acerca dessas questões – inclusive é o mínimo que podemos fazer. Todavia, compreendo que não tenho lugar de fala nos debates feministas, e pondero cuidadosamente o que irei falar diante do sexo oposto. Por outro lado, os homens ainda acreditam que são superiores, que são invejáveis, que são geniais. Nunca evoluem, sujeitos chatos.
Uma lúdica e grande merda. À medida que a cineasta Lays Bodanski discorria sobre os postos que são destinados às mulheres na sociedade, senti-me um horror e não conseguia conversar, só refletir. Primeiro, porque faço parte de um grupo socialmente privilegiado. Segunda, porque sou homem e fui criado dentro do sistema patriarcal, o que me estimula inconscientemente a ter posições que são absurdas. Ora, tendo isto como base, a gente pode afirmar que o sexo feminino ainda não pode ocupar os espaços da mesma forma que os homens.
Pare e pense um minuto: não importa o quão tranquilo e desconstruído você seja. Não... O que vale a pena é ter noção de que tua postura pode – e certamente irá – prejudicar alguém, especialmente as minas, então respeite-as. Ainda mais se fores daqueles cabras machos que não dão conta de formular rum raciocínio esclarecedor e segurar a onda. Em via de regra, somos uns bandos de privilegiados que adoram ocupar postos de liderança e criatividade.
A medida em que a conversa rolava, eu podia sentir meu coração palpitando no ritmo de uma melodia tipicamente dolorosa. Sim, porque no Brasil uma mulher é violentada a cada onze minutos. Sim, temos de falar do machismo e, sobretudo e antes de tudo, temos de compreendê-lo, combatê-lo e desconstruí-lo. Sim, temos de admitir que somos natural e essencialmente machistas, porque nossa educação é permeada desse tipo de falha.
Vamos admitir que somos miseravelmente horripilantes quando abrimos a boca junto de nossos amigos. Porque todos sabem que mesa de bar é o lugar onde mais há falas torpes. Vamos admitir que nossos contos, crônicas e tudo o mais que escrevemos – este escriba de quinta categoria é autor de alguns amontoados de palavras - contém barbáries horríveis. Vamos dar voz e vida para as mulheres, vamos transformá-las em seres humanos, e não em deusas gregas. Só vamos.