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  • Rosângela Aguiar

Vencedores do 20° FICA falam das relações humanas e do homem como integrante do meio ambiente

As relações humanas como parte integrante e ativa do meio ambiente e as construções grandiosas do período da ditadura militar foram a tônica do grande vencedor do 20° FICA. Construindo pontes, da cineasta e diretora Heloísa Passos, levou dois prêmios - Cora Coralina e Troféu Júri Jovem e mais R$ 100 mil reais. O filme foi escolhido por unanimidade pelo juri oficial como melhor produção entre os 21 filmes exibidos de 8 países na Mostra Competitiva. Quem foi a esta edição do FICA teve que fazer malabarismo nos horários para conseguir acompanhar todas as atividades, muitas simultâneas.

Foram exibidos 101 filmes, sendo 47 goianos, em oito mostras de cinema - Competitiva, 16ª ABD/GO, 2 Saneago (estas com premiação), FICA Animado, FICA 20 anos, FICA Atitude, Filmes de Audiodiscrição e Infantil de Audiodiscrição, além da Mostra de Cinema dos Povos do Cerrado e de Lançamento. Foram dias intensos de respirar, ver, discutir e sentir o cinema na histórica Cidade de Goiás, palco do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental há 20 anos.


Os vencedores do 20° FICA

Foto: Divulgação

Construindo Pontes é o primeiro longa de Heloísa Passos. Emocionada, ela falou do trabalho na frente e por trás das câmeras, na companhia do pai, Álvaro Passos, das divergências de opinião e pensamentos e de um aceitar o outro. "O que acho mais importante neste momento que a gente está vivendo hoje é as pessoas se aceitarem e fazerem um exercício de democracia, que é dialogar. A gente está precisando aprender a dialogar", disse. Para ela esse é um exercício de democracia. "O filme se propõe a isso", explica.


"Meio ambiente não é só fauna e flora. É também o ser humano e suas relações com o local que está inserido", Heloísa Passos


A cineasta paranaense elogiou a organização e a curadoria do 20° FICA ao reconhecer, na escolha dos filmes participantes da mostra competitiva, que o ser humano é meio ambiente. "Nós somos meio ambiente e o olhar deste festival para a geografia humana, a geografia urbana, é muito importante. Meio ambiente não é só fauna e flora, somos nós inseridos neste meio, nesse meio urbano, nesse meio rural", elogiou Heloísa Passos.


Relação de pai e filha mostra que o ser humano é meio ambiente

Foto: Divulgação


Construindo Pontes


O longa, que surgiu a partir de material em fotos e em super 8 sobre as Sete Quedas que desapareceram com a construção de Itaipu durante a ditadura militar, acaba por falar das relações humanas. As pontes construídas, mapas e etc, servem como um caminho de volta a um passado sombrio do país e o questionamento da realidade a partir das conversas de Heloísa e seu pai. "Descobri um homem e um pai generosos, fazendo cinema com ele e isso foi transformador...Um olhar micro, da casa da gente, para o macro neste tempo do cinema, que chamo de estendido, é ver e ouvir de uma forma mais longa", revela.


Para Heloísa, o cinema é uma busca de identidade em um tempo próprio e por isso muitas pessoas acabam se identificando com a história de Construindo Pontes. "As pessoas se identificam pela transparência, pela honestidade do filme e pela disponibilidade do meu pai de não pedir nenhuma cláusula e não se restringir a nada no filme, de estar de coração aberto", conta. O filme emociona, faz rir, ao mesmo tempo que nos leva a reflexão. O filme esteve em cartaz em 12 salas de cinema no país e deve reestrear em Goiânia em breve.


Penúmbria, um lugar largado ao tempo

Foto: Divulgação


Além dos vencedores dos demais prêmios (veja a lista completa abaixo), o júri oficial decidiu conceder uma menção honrosa pra o curta-metragem Penúmbria, de Eduardo Brito, que também recebeu o Troféu Jesko Putkamer, escolhido por profissionais da imprensa. O documentário português conta a história de um lugar inabitável. A cidade de Penúmbria, que dá nome ao filme, fundada há 200 anos, fica num local de difícil acesso, com solos áridos, mares revoltos e clima violento. E este lugar que vive em meio a sombra e nebulosidade quase que permanentes, levaram os habitantes a entregar o local ao tempo.


Bazuca sonha em voar

Foto: Divulgação


Entre os filmes goianos, A viagem de Ícaro, de Kaco Olímpio e Larissa Fernandes, levou três prêmios da ABD - Melhor Trilha Original, Thiago Camargo; Melhor Montagem (edição), Luciano Evangelista e Melhor Ator, Washington da Conceição, Bazuca, que é o tema central do filme. E ainda ganhou o Troféu José Petrillo de segunda melhor produção goiana. Bazuca é um catador de materiais recicláveis que sonha em voar e constrói as próprias asas para realizar este sonho.


Diriti de Bdé Buré, documentário de Silvana Beline, ganhou o Prêmio João Bênio de melhor filme goiano. "Obrigada cosmos por permitir me sentir grávida de sonhos aos 52 anos", disse Silvana Beline ao receber a premiação. O documentário mostra a história de uma indígena mestra ceramista que faz bonecas Karajá e suas relações intraetnia na busca da continuidade da cultura desta tribo e a manutenção econômica.

Mostra da ABD


Outro grande premiado desta edição foi o curta goiano de ficção A piscina de Caíque, de Raphael Gustavo da Silva, que levou quatro prêmios da 16ª Mostra ABD/GO - Troféu Beto Leão de melhor ficcção, melhor atriz - Eliana Passos, trilha sonora original - Thiago Camargo, melhor roteiro - Raphael Gustavo e o Prêmio Beto Leão de melhor ficção. O filme fala de Caíque que sonha em ter uma piscina e brinca com a água junto com o melhor amigo. O resultado são problemas com a mãe por conta do desperdício da água.


Brincadeira de dois meninos dá lição sobre desperdício de água

Foto: divulgação


Lançado em 2017, A piscina de Caíque já ganhou 20 prêmios, sendo um internacional. O diretor e roteirista do filme, Raphael Gustavo, conta que conseguiu fazer o filme por meio de um edital afirmativo, só para realizadores negros. E critica as instabilidades no financiamento público do cinema e audiovisual, em especial em Goiás. "Hoje a gente vive alguns momentos de instabilidade, principalmente na esfera estadual com o Fundo de Cultura, com a Lei Goyases, e os atrasos de editais que acabam não sendo lançados, o que tira muita gente dessa área", critica.


Raphael Gustavo ressalta que quase todos os países do mundo passaram por esse momento de financiamento público até fortaleceram o audiovisual e cinema como uma indústria que gera emprego, renda e movimento milhões, caso dos Estados Unidos. "Precisamos deste incentivo, de uma indústria cinematográfica e que continue com esta coisa de formação de público", diz.

Diretor fomenta a cultura na periferia


Com excessão dos prêmios de melhor atriz e melhor trilha original que são dos profissionais, o de melhor filme de ficção e de roteiro serão reinvestidos em projetos da produtora que não conseguem verba. "Vamos tocar o Favera - Festival de Audiovisual Vera Cruz-, que realizamos no Conjunto Vera Cruz, periferia de Goiânia, já que nem sempre conseguimos verba para o festival e na Vera Cult, casa de cultura lá tbm, mantido por nós, e que também não conta sempre com verbas", anuncia Raphael Gustavo.


Premiados das Mostras Competitiva e ABD Cine Goiás:


MOSTRA COMPETITIVA 2018


Grande Prêmio Cora Coralina – Construindo Pontes, de Heloísa Passos

Troféu Carmo Bernardes – Melhor Longa-Metragem – “Coros do Anoitecer” de Nika Saravanja e Alessandro d`Emilia.

Troféu Acari Passos – Melhor Curta ou Média Metragem – Plantae, de Guilherme Gehr.

Troféu João Bennio – Melhor Filme Goiano – Diriti de Bdé Buré, de Silvana Beline.

Troféu – Segundo Melhor Filme Goiano – “A viagem de Ícaro” de Kaco Olimpio e Larissa Fernandes.

Menção Honrosa – Penúmbria, de Eduardo Brito.

Prêmio do Júri Jovem – Construindo Pontes, de Heloísa Passos.

Troféu Jesco Von Putkammer – Filme Escolhido Pela Imprensa – Penúmbria, de Eduardo Britto.

Troféu Luiz Gonzaga Soares – Júri Popular – Corp., de Pablo Polledri.


MOSTRA SANEAGO


“Winding”, do Diretor Avi Belkin.


MOSTRA ABD


Melhor atriz: Eliana Santos - A Piscina de Caique.

Melhor ator: Washington da Conceição (O Bazuka) - A Viagem de Icaro.

Melhor som: Sankirtana Dharma e Guile Martins - Diriti de Bdè Burè.

Melhor trilha sonora original: Thiago Camargo - A Piscina de Caique.

Melhor montagem/edição: Luciano Evangelista - A Viagem de Icaro.

Melhor direção de arte: Ursula Ramos - Hugo.

Melhor direção de fotografia: Matheus Leandro - Diriti de Bdè Burè.

Melhor roteiro: Raphael Gustavo da Silva - A Piscina de Caique.

Melhor direção: Larry Machado - Kris Bronze.

Prêmio Martins Muniz de melhor filme experimental: “Sete Peles” direção: Ana Simiema.

Prêmio Fifi Cunha de melhor filme de animação: O Malabarista direção: Iuri Moreno.

Prêmio Eduardo Benfica para o melhor filme documentário: “Kris Bronze” direção: Larry Machado consistindo.

Prêmio Beto Leão para o melhor filme de ficção: “A Piscina de Caique” direção: Raphael Gustavo da Silva.

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