Marcus Vinícius Beck
Carta Aberta ao menino Neymar

Foto: Reprodução
Meu caro 10, manda esses malas que estão torcendo contra o escrete canarinho às favas, manda em espanhol com teu sotaque brazuca, manda em catalão, manda em francês, manda ao inferno de Dante. Antes, todavia, faz um daqueles golaços que és acostumados a guardar, dá caneta, tira onda, passa a mão na bunda do marcador, vai para cima do infeliz até deixa-lo desnorteado com tua ginga tupiniquim.
Meu velho, essa loucura de te comparar aos grandes nomes do nosso futiba não está com nada. Ainda estamos nos recuperando da sonora goleada, santo Deus, aplicado pelo pessoal da terra de Nietzsche em pleno solo de Drummond, mineiro de nascença e amante fervoroso de Copa do Mundo.
Carpe die, carpem noctum, aproveite a noite, seja malandro, hijo de puta, o povo brasileiro merece levantar a taça do hexacampeonato. Não dê bola para essa tal paranoia do ‘pão e circo’, nada disso, não, precisamos de ti inteiraço para fazer bonito nos próximos jogos da Copa.
Sim, enquanto este escrevinhador de quinta bate estas palavras apaixonadas tu podes estar em campo, não sei, estou preso na estrada entre o insight e a publicação. Não tenha culpa, nada dessa bobagem, esqueça os marcadores, drible-os, porém lembre-se de soltar a bola para o jogo fluir com tranquilidade.
Nem Sísifo chega a carregar tanta responsabilidade nas costas como tu estares carregando neste momento, embora saibamos que a seleção canarinha é mil vezes mais superior que os outros times da chave. Mas não devemos cantar vitória antes do apito do juizão, porque senão a coisa fica feia, triste e o Brasil vai dormir entristecido mais uma vez.
Meu caro 10, bate tua bolinha como és acostumado no PSG, como eras acostumado no Santos, no Barcelona, desde que os costariquenhos e sérvios fiquem putos em campo e te deixem jogar. Relembra das tuas tabelinhas da época em que jogavas no peixe de Muricy Ramalho, aquele mesmo que conquistara a Libertadores da América.
Porque, meu caro 10, tu com uma perna és um dos melhores jogadores do planeta, um nível abaixo de Romário, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo – só para ficar os craques das últimas conquistas mundiais de nossa desprestigiada seleção.
Como concentrarás para a Copa com as críticas e broncas da pátria de chuteiras calçando chinelos?
Mereces, menino Neymar, o banquete dos deuses para conseguir trazer o sexto caneco mundial para nós, basta rebobinar a fita e pôr aquelas da época do Santos. Ora, estamos tão tristes por conta do vexame que passamos no Mineirão.
Não estavas em campo, eu sei, mas que joguinho mequetrefe fora aquele, hein? Sério, tu me explicas? Marcelo, Thiago Silva, Daniel Alves, Luiz Gustavo, Bernard – “o alegria nas pernas”, parafraseando o Galvão... tristeza nos olhos e na fé com um timinho desses.
Meu 10, aqui no Brasil a gente nunca teve tão entusiasmado com o escrete brasileiro como agora. Creio, se não estiver sendo traído pela minha memória e conhecimento futebolístico de botequim, que a última vez em que estávamos esperançosos fora em 2006, com o quarteto mágico do Parreira.
Abraço, boa Copa para tu e bons jogos. Ainda precisamos falar do teu duvidoso comportamento extracampo. Até a próxima.