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Maconha, mídia e democracia

Algo está mexendo com os nervos do Senado Federal.



A proximidade das eleições tem trazido à pauta o debate entorno das FakeNews, ou informações falsas. Na última semana o presidente do TSE, ministro Luiz Fux chegou a cogitar a anulação do processo eleitoral caso se confirme alguma influência de notícia falsa.


Comissões legislativas em torno do controle de dados se somam no esforço de limitar a pluralidade de informação e os meios de verificação da notícia. Com isso a legitimidade das fontes se torna a disputa central de interesses divergentes e fator vital para o desenvolvimento de conhecimentos seguros e na consequente deliberação política no que corresponde aos interesses democráticos da população.


De fato, as chamadas Fake News estão servindo como pretexto alarmista na autoafirmação de fontes corporativas, tidas como inquestionáveis e confiáveis por seu reporte com instituições comerciais superpoderosas e poderes do Estado repressivo, monopolista no uso da violência policial.


Uma nova forma de censura vem se afirmar na internet


A exemplo disto, na última segunda feira, 25 de junho, o Senado Federal publicou em seu perfil do Facebook uma nota justificando a retirada de uma campanha governamental antidrogas. Baseada em dados falsos a publicação da Secretaria Nacional de Política de Drogas (Senad) caiu no descrédito de especialistas de todo o país, revelando a estrutura da farsa repressiva que legitima a política de drogas no Brasil.


Através do compartilhamento o senado legitimou informações falsas a respeito da maconha ao reproduzir que o uso da planta pode tornar o usuário agressivo, causar alucinações ou mesmo levar à morte imediata, além de outros disparates.


No contexto da Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, organizada pela Senad de 19 a 26 de junho, depois e ainda na sequência de uma audiência pública a respeito da política de drogas realizada no próprio Senado, a fonte utilizada na publicação, e reproduzida pela casa legislativa, é ninguém menos que a própria polícia.


De acordo com a nota de retirada da publicação, a confusão terminou na conta de “estudos” da Academia Nacional da Polícia Federal.


Com a confusão fica exposto o aparato policial repressor que se vale da autoreferência para embasar suas fontes pseudocientíficas intrumentalizadas em nome do proibicionismo mais rasteiro com vistas à desinformação da sociedade.


Muitos ativistas pela descriminalização contestaram as informações com dados concretos que ressaltam, por exemplo, a inexistência de um único caso de morte relacionado ao uso da erva.


A Revista Fórum publicou algumas falas de especialistas: “A assessoria do Senado Federal está dando péssimo exemplo ao divulgar fake news sobre os malefícios do uso de maconha. Amedrontar se valendo de mentiras não é o caminho republicano para informar a população” declarou em sua rede social Andrea Glassi, da Plataforma Brasileira de Política de Drogas.


"O tom de medo e pânico e as mentiras destacadas pelo conteúdo da campanha geram descrença, ridículo e afastam as pessoas da única informação relevante ali contida (embora mal redigida), de que o uso de maconha pode não ser adequado a pessoas com histórico de doenças psiquiátricas como esquizofrenia. A postagem, que usa a Polícia Federal como fonte (??!!), também esquece de citar que maconha é remédio, inclusive o próprio Senado discutiu o tema em audiência na semana passada. Se eles fossem minimamente sérios e preocupados com a saúde pública, dariam dicas concretas de cuidado e redução de danos para quem usa maconha e não tentariam enrolar as pessoas. Informação científica não falta. Simples assim”, escreveu em seu Facebook a jornalista e ativista de direitos humanos Rebeca Lerer, que tem uma longa trajetória na militância da redução de danos e políticas de drogas.

A campanha vai na contra-mão da tendência internacional, pela qual países democráticos passaram a adotar políticas favoráveis à regulação da maconha e outras drogas. Exemplo do Canadá que descriminalizará o uso da maconha nos próximos meses. O uso da erva para fins medicinais é discutido em propostas que tramitam no mesmo Senado Federal que compartilhou a campanha falaciosa.

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