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  • Rosângela Aguiar

Brasil: país da intolerância?


Na era da internet e da velocidade quase ultrasonica de disseminação de informações fakes ou não, muitos se tornam influenciadores de opinião. E se sentem no direito de falarem o que bem querem das pessoas, em especial dos famosos e filhos de famosos. Mas a sociedade não tem deixado barato os atos de racismo seja com quem for. E se os "influenciadores digitais" dizem o que querem nas redes sociais, recebem o troco tão rápido quanto propagam seus impropérios contra pessoas negras, gays, índios, pobres, mulheres. As "piadinhas" não tem sido encaradas como piadas.


Racismo, machismo e misogenia já não são mais aceitos com facilidade, em especial nas redes sociais (twitter, facebook, instagram), território livre onde todos falam e postam o que querem. Vide o que aconteceu com os torcedores brasileiros que perderam seus empregos e foram repreendidos pelo mundo todo pelas postagens machistas contra uma mulher russa.


A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no país. A cada 11 minutos uma mulher estuprada. Os dados são do Dossiê das Intolerâncias nas Redes da Agência Nova/SB. E as redes sociais acabam ampliando e amplificando o ódio, reafirmando o preconceito que muitas pessoas possuem. A pesquisa monitorou cerca de 220 mil menções sobre diversos tipos de intolerância entre os meses de julho e setembro de 2017. Os comentários foram classificados a partir de dez tipos diferentes de intolerância nas redes sociais: em relação à aparência das pessoas, às classes sociais, às deficiências, homofobia, misoginia, política, idade/geração, racismo, religião e xenofobia.


A boa notícia, segundo esta pesquisa, é que a intolerância tem reduzido. Foi o que constatou entre 2016 e 2017. No primeiro estudo, em 2016, a homofobia tinham 93,9% dos comentários negativos e em 2017 caiu para 59,5%. O preconceito de classe social, com as menções negativas passaram de 94,8% para 61,2%, e a xenofobia, de 84,8% para 50,3%. Apesar da queda nos números, a intolerância nas redes sociais ainda permanece. No entanto, as reações têm sido na mesma velocidade. Não há pesquisa sobre estas reações, mas pela redução dos números, temos um indicativo de que os brasileiros não estão tolerando ou apoiando este tipo de postagem ofensiva.


O racismo nas redes


"Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein", disse Júlio Cocielo no Tweeter. "É coisa de preto..", William Waak, jornalista, em vídeo que circulou na internet após se sentir incomodado com buzina enquanto gravava uma entrevista. "Passageiro pula de avião ao constatar que Taís Araújo estava a bordo", ironizou o presidente da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), Laerte Rímoli no Twitter e Facebook. "Idiotice racial", declarou o secretário de Educação do Rio de Janeiro, César Benjamin sobre declarações da atriz Thaís Araújo sobre o fato de pessoas atravessarem a rua ao verem o filho dela na mesma calçada. Dayane Alcântara Couto de Andrade, de 28 anos, que se auto intitula "socialite" cometeu injúria racial contra Titi, filha menor dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank no final de 2017.


O que as pessoas achincalhadas e alvo deste tipo de declaração tem em comum? A cor da pele, a raça. Se fossem brancas não haveria este tipo de comentário. Isto é racismo. Isto é crime previsto na Lei n. 7.716/1989 e é inafiançável e imprescritível. E não pode ser tratado como injúria racial previsto no Código Penal porque atinge não somente a honra das pessoas citadas, mas porque atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos da raça negra. E todos estes crimes foram praticados por pessoas conhecidas, algumas consideradas influenciadoras de opinião, seja nas redes sociais, seja na grande mídia.


Se não aconteceram prisões como prevê a lei, o youtuber e "digital influencer" Júlio Cocielo já está sentindo na pele e pagando de uma forma que dói mais na maioria dos brasileiros. No bolso. Perdeu vários grandes patrocinadores como Adidas, Itaú Unibanco, Submarino e Coca-Cola. Não foi apenas uma frase infeliz como podem dizer alguns fãs. Foi racismo escancarado. E tudo porque o atacante Kylian Mbappé fez dois dos quatro gols que mandaram para casa nossos hermanos argentinos nas oitavas de final da Copa de 2018. Um jogador veloz e com chute certeiro. O jornalista William Waak ficou na geladeria na Rede Globo e em seguida perdeu o emprego.


O racismo nas redes sociais é, na verdade, uma forma dissimulada deste mesmo preconceito enraizado na sociedade. Algo a se pensar!

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