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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Corinthians nosso de cada dia



“A semana inteira fiquei esperando, pra te ver sorrindo, pra te ver cantando”. Estes versos são de Tim Maia, mas poderiam traduzir o sentimento da Fiel Torcida em relação ao Corinthians. Apesar de estarmos à beira de sofrer uma overdose por futebol bem jogado em função da Copa do Mundo, o Timão fez falta durante o tempo em que estávamos com nossos olhos voltados para a seleção canarinha na terra de Maiakovski. No entanto, a tentativa frustrada de erguer a sexta taça de campeão do mundo logo nos fez voltar à realidade. Sim, tudo que é bom dura pouco - inclusive o futiba de ponta.


Amigo sofredor, partilho de amor e ódio com o Corinthians, disso não há dúvida. Basta o treinador pôr em campo Roger ou Marquinhos Gabriel que não consigo controlar o ímpeto: impropérios vem-me à cabeça na hora, como a nota na guitarra de Jimi Hendrix em Woodstock, ainda mais se esses sujeitos errarem o último passe que poderia culminar em chance clara de gol. Porém, se Roger e Rodriguinho balançar o jardim adversário elevo-os imediatamente à condição de craques da partida, ainda que eu esteja agindo no calor da fúria e paixão corintiana.


Sou preto e branco, quer dizer, transformei-me em algum momento num sadomasoquista, como cantou Rita Lee, já que torcer pelo alvinegro é um exercício cardíaco diário e um atestado de demência irrefutável. Sou um mero cronista romântico e apaixonado que ainda sonha com as utopias marxistas, pois o Corinthians é o proletário que consegue em algum momento de sua vida, geralmente inebriado pela ressaca pós-jogo, o êxtase da existência que capitalismo lhe suprime.


Há coisas que só acontecem ao Corinthians e a mim. Por exemplo, o Corinthians é um clube que nunca desiste, que dispõe de humildade, independentemente das circunstâncias. O Corinthians sempre buscou se profissionalizar ao máximo, bem como os garranchos que vira e mexe invento de escrever nesta lúdica coluna.


Se a vida seguisse uma lógica, o Corinthians não teria um torcedor sequer nesta segunda década do século XXI, já que a massa alvinegra nunca foi tão acostumada a títulos - vide os 23 anos, entre 1954 e 1977, sem conquistar o Campeonato Paulista. O Corinthians é capaz de ficar anos a fio sem levantar um troféu, mas é incapaz de tê-lo sem sofrimento. O Corinthians é capaz de cometer uma injustiça brutal a um filho seu, mas é incapaz de cometê-la com um torcedor, isto é, com integrantes do bando de louco que grita incessantemente durante 90 minutos.


O Corinthians não se dá bem com ‘chinelinhos’, tem de ser como eu: coração selvagem, tudo temerosamente inventado na hora. Por isso, digo que Balzac é Corinthians, Flaubert é palmeiras; Baudelaire é Corinthians, Verlanine é palmeiras, Rimbaud é São Paulo; T.S Eliot é Corinthians, Erza Pound é Santos; Fernando Pessoa é Corinthians, Camões é santos; Eduardo Galeano é Corinthians, Gabriel Garcia Marquez é Palmeiras; Pablo Neruda é Corinthians e Federico Garcia Lorca é São Paulo.


Sim, os poetas românticos do século XIX são Corinthians, mesmo no fundo, no fundo, debaixo da capa dos versos, há um romantismo um tanto quanto bairrista. O Corinthians é, antes de tudo e sobretudo, confusão, paixão, grito, desespero, loucura e sanidade. O Corinthians, às vezes, maltrata entes queridos, como eu. O Corinthians, invariavelmente, é boêmio, assim como eu..


Enfim, senhoras e senhores, o Corinthians é meio tantã, que nem eu. E meu coração selvagem é cada vez mais alvinegro, que nem as cadeiras da Arena Corinthians.


Forte Abraço, até a próxima crônica do lirismo boêmio e futebolístico.


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