Marcus Vinícius Beck
Verborragia sobre o mês de agosto

John Fante, criador do personagem Arturo Bandini, seu alter-ego. Foto: Reprodução
Amigo boêmio, amigo sofredor, eis que me pego em um diálogo espiritual, ou em um exercício de intertextualidade, como queiram, com o cronista mor de costumes que solta uma verborragia lírica e sentimental toda semana no El País, Xico Sá. A receita do homem, na crônica de sexta-feira (3), para este mês de agosto é infalível. Passei os olhos pelo texto com o objetivo de refletir acerca do delírio cotidiano que nos deixa cada vez mais receosos em relação aos próximos meses.
Não quero verter depressão neste escrito chinfrim, caro leitor, te juro. Todavia, te digo: 2018 não será um ano digerível. Aliás, além de me pegar neste exercício literário com o trovador do sertão nordestino, lembro de uma digressão redigida pelo doutor Hunter Thompson na épica obra da loucura jornalística, Medo e Delírio em Las Vegas. “Estávamos tentando esquecer deste sórdido ano de 1971”, discorre o escritor.
Bem, por falha de meu cocuruto zoado, não consigo terminar a sentença do mestre gonzo – prometo em trazê-la na íntegra na próxima crônica.
O que preciso salientar aqui é o seguinte: não comparemos os agostos, ora pois, já que desde o estouro da Primeira Guerra Mundial temos motivos de sobra para debilitar maldições ao tido mês do cachorro louco, mês em que o escritor Charles Bukowski nascera em 1920, na Alemanha, mês em este que vos fala veio ao mundo. Abril, como pontuou com sua conhecida maestria o poeta estadunidense T.S.Eliot, é o pior mês somente para o amor, porque nas tragédias sociais a folhinha oito disparadamente ganha.
Até no futiba nosso de cada dia a coisa está degringolando. Sim, o Corinthians, time do povo, da luta, da alternância dos estados de humor, não consegue engrenar no Brasileirão, na Libertadores e, depois do resultado desta segunda-feira, creio que estejamos absolutamente inseguros para o certame decisivo contra a Chapecoense, em Santa Catarina, que vale vaga para a semifinal da Copa do Brasil.
Meu chapa, para atravessar o mês de agosto lhes recomendo a leitura de qualquer obra de John Fante. Voz narrativa do escritor e uma espécie de alter-ego dele, o menino Ítalo-americano Arturo Bandini é detentor de sabedorias fundamentais sobre as dificuldades que o homem pode passar na porra da vida. Além disso, o desgraçado passara fome quando saíra de uma cidade interiorana dos EUA para tentar ser escritor em Los Angeles, que de cidade dos anjos não têm nada – vale a leitura de cada palavra escrita por Fante, fica a dica.
Se agosto insistir em provocar dores em nossos ossos, juro que declamo, em público, alguma coisa de Medo e Delírio ou Pergunte ao Pó. Para passar pela folha oito do calendário, sem maiores sentimentos tristes, urge deixar de lado – nem que seja pelas próximas duas semanas – as redes sociais e se integrar completamente à amada (o), pois o amor é revolucionário em todas suas nuances, ainda que ele possa gerar cicatrizes incuráveis em quem se dispôs a se entregar ao outro.
Atravessar um agosto, mais um, repleto de injustiças sociais, julgamentos pífios que atendem os interesses dos empresários da mídia, ah seus lazarentos, façam-me o favor, um dia, nem que seja apenas um dia, só por um dia, como nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos, e sejam neutros em seus leads, subleads e corpo das matérias jornalísticas compradas pelo jabá que rola solto nas redações brasileiras.
Prepare-se homem, prepara-se mulher. Será tarefa para heróis e todos os super trans da face da Terra. A missão está na metade. Tal qual um garoto fodido tipo Bandini, o do livro de Fante, esperamos a primavera, como nos cantou outrora Tim Maia.
Que este resto de agosto nos seja leve.
Até a próxima crônica do delírio louco. Forte Abraço.