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  • Júlia Lee

Do existencialismo à coletividade



Pessoas comuns, em mundos adormecidos. Nada os preocupa, o vazio ecoa pelos olhares estáticos que não sabem o que esperar, afinal o futuro é uma ilusão do presente. Estaríamos ignorando a própria existência em função de algo que nos molda?


Essa pergunta impregnou meus pensamentos após a performance ‘Do barro ao tempo’, do artista Geovani Santos, que estreiou no último sábado (18) no Cabaret Voltaire durante a festa Arte Viva II.


Quiçá, ‘do barro ao tempo’ seja uma das facetas poéticas mais subjetivas já vista no trabalho do paraense Geovani, com singela ligação com suas raízes o artista trouxe filosofia existencial para uma apresentação que não contém fala. Em entrevista ao Metamorfose, Gê afirma que “mastigar as dores é como o artista faz sua arte. Transmutar na arte é transmutar a sociedade, arte é manifestação!”.


Renascer e se auto reconhecer. Nascemos em um mundo já moldado pelas funções sociais que sustentam a estrutura de poder vigente, um barro sólido. Nem todas as pessoas tem o privilégio de acessar informações que as mostre como o mundo coletivo funciona, os porquês das relações socais serem da forma como são e o que elas representam.


Fotos: Júlia Lee


A busca por entender a solidez do mundo nos transforma em bichos acuados e perdidos, se começa a perceber o escuro das almas despedaçadas, eu sei do sangue. Será que mais alguém vê também? É observando o mundo ao seu redor que o bicho entende que aquele barro não é ele, que aquele universo de signos e relações não o representa. Porém, como um engolir de terra a sociedade o enfia garganta abaixo o padrão a ser seguido. Você engole, sofre ao aceitar pois a ânsia continua ali e não se pode ignora-la, a voz de revolta e ódio é mais forte que sua vontade de seguir regras e normas.


Mas, em um sufocar ensurdecedor, vomita-se o mundo barroso. O peso que pressionava sua alma ao desespero já não se encontra mais ali, e agora? O que me resta? O silêncio do perceber de si como um ser mutável, quiçá somos todos agentes transformadores do mundo coletivo através da mudança de si mesmo.


Ainda sou poesia, e com afeto consigo moldar a percepção do mundo que chamo de meu.


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