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  • Júlia Lee

Misteriosa caravana: O Tarot

Pela primeira vez nas terras do pequi, a banda O Tarot afirmam que o público goiano é cheio de sinergia

Foto: Artur Dias


Nuvens coloridas, sensações perdidas pelo espaço tempo. Quando uma manifestação artística diz uma verdade, outro perceber de algo barroso, como não escutar? A banda O Tarot, de Brasília, consegue transparecer com a autenticidade de quem se permite a possibilidade do novo.


O Tarot é composta por Caio Chaim (voz, teclado e letras); Lucas Gemelli (acordeon, guitarra, bandolim e letras); Vinicius Pires (guitarra); Victor Neves (baixo); e Tavares (bateria e percussões). E no sábado (18), na festa Viva Arte II, a banda pela primeira vez se apresentou em Goiânia.


Talvez um jogo com 22 cartas não seja o suficiente pra contar a história desses meninos que tem tanto a dizer, sobre o mundo, sobre si mesmos e principalmente sobre a fusão entre os dois. "A gente segue a ordem do tarô, a lógica dos arcanos maiores é a jornada do ego, do 0 ao 21. As 22 cartas são os arquétipos desse processo de descoberta que é cíclico, você chega a um ponto e se renova", conta a banda. Todos os álbuns do O Tarot são correlacionados aos arcanos maiores do baralho, quiçá a banda seja na verdade uma grande incógnita a ser simplesmente percebida.


Confira abaixo a entrevista completa do Metamorfose com O Tarot:


Metamorfose: O que mais senti de vocês é a diferente percepção da realidade, vocês trazem uma 'coisa' na arte que pouco se vê na nossa geração, vocês acreditam que arte é política?


O Tarot: A gente acredita que a arte é uma manifestação, ela trás percepções de mundos distintos, nas nossas letras e músicas tentamos criar uma narrativa, história, uma reflexão.. sem dúvidas a arte é política. Na verdade se a arte fosse encarada como a verdadeira política as coisas se resolveriam bem, como a gente falou no show a arte é a única solução que temos.


Metamorfose: Qual o papel da arte nesse momento que vocês vivem, a arte de vocês? Como vocês encaram a arte de vocês?


O Tarot: A arte sempre esteve vinculada com a vanguarda, processos de ruptura, zeitgeist, o status. O que tentamos fazer de forma bem modesta é criar nosso universo com a nossa leitura de mundo para que pessoas se conectam com nossa mensagem construtiva, positiva mesmo.


Metamorfose: Qual a essência de vocês?


O Tarot: Saindo do campo das músicas, somos um grupo unido em torno de uma ideia de melhora coletiva, essa é nossa principal filosofia, conectar pessoas, conexão eu diria. Estamos muito conectamos com a espiritualidade, escolha do nome, a questões das cartas está muito na nossa história, bem metafísico, a carta é um objeto a gente resignifica, as pessoas que escutam O Tarot entendem da espiritualidade e se conectam com algo maior, algo que se sente.


Fotos de Júlia Lee do show da banda O Tarot na festa Viva Arte II


Metamorfose: Como a banda percebe as pessoas se identificando com o mundo que vocês criam?


O Tarot: Fiquei pensando sobre isso, a gente fala muito sobre uma visão diferente de mundo, sempre existe aquele clichezão de banda 'vamos mudar o mundo', vamos espalhar nossas ideias, a gente está mais interessada em tocar as pessoas mais do que mudar o mundo, por que se você entrar em contato com uma pessoa. Você acaba mudando o mundo de alguma forma, é muito emocionante chegar nos lugares que a gente não conhece e conhecer aquelas pessoas. A gente recebe com muita felicidade, cada abraço no meio da trajetória, é legal ver que a mensagem chega nos ouvidos que ela tem que chegar, as pessoas que se conectam e por que acreditam de fato. Um termo que usamos para nos descrever e descrever nosso público é a ideia da caravana, pessoas que viajam juntas, vão pro mesmo lugar, a vida é uma trajetória, essa viagem louca cada um ta no seu momento, mas todos os caminhos juntos pra uma mesma direção. O Tarot prega isso, servimos a mesma idéia, que é a proposta do O Tarot de mostrar as cartas, é um oráculo, a pessoa faz sua leitura e encontra uma forma de resolver o problema.


Metamorfose: A arte enquanto manifestação, a arte de vocês tem o propósito de mudar alguma coisa?


O Tarot: Eu espero que sim, tudo que fazemos é pensando em conectar as pessoas, no show a gente ve se a pessoa se conectou, sensação de dever cumprido. Não tem muita política nas nossas letras, mas temos muita base de querer criar relações melhores entre as pessoas, a mudança vem da pessoa, mas a arte é um grande começo, faz você olhar as coisas de outra forma.


Metamorfose: É uma manifestação do que?


O Tarot: Eita! Essa é uma das entrevistas mais profundas que a gente teve até hoje cara (risos). O que é existir? Caramba, existir pra que será que se destina.. Acho que se a gente vai discutir no campo da existência, ela é muito além desse campo terreno aqui, talvez daí que venha essa história dos nosso símbolos e do misticismo, da conexão e de reencontros. Quiçá existir tenha um verbo implícito no existir que eu acho que é uma característica muito humana que é o vencer a morte de alguma forma, de dizer que passamos por aqui, e a arte é um meio muito eficaz pra isso. É a capacidade de se fazer arte que nos diferencia dos outros animais, e o que é curioso é que a arte ela sempre vive um ponto de crescimento, uma grande agitação em momentos de profunda crise: econômica, política, social.. Então, esse talvez seja um dos maiores indicativos, uma das maiores provas de que a arte é um canal, uma via de transformação a nível coletivo, nesse sentido eu acho que a arte é uma manifestação política e a arte é uma manifestação da nossa existência. Não há como se existir sem arte!


Metamorfose: A música de vocês trás essa essência?


O Tarot: Claro! Muitas das nossas letras, eu diria a grande maioria na verdade, são sobre os grandes mistérios da existência. Inclusive várias delas a gente exclusivamente sobre esse tema: Supernova, Corte, Procura-se.. Enfim, a nossa arte é um ponto de afirmação da nossa passagem por aqui como indivíduos dentro do coletivo, como atores dentro do mundo e da sociedade. No resumo, nós buscamos algo belo! A gente quer viver uma vida bonita, transmitindo energias boas, mensagens bonitas que agreguem e tragam conforto, esperança, choro que lava o coração.


Metamorfose: E pra finalizar, o que vocês esperam do futuro?


O Tarot: Em primeiro lugar que ele chegue, porque notícia atrás de notícia, tá foda né? Vai rolar mesmo futuro?! Nós precisamos de estrutura, as pessoas precisam entender a cultura como cadeia de ofício e saber que é uma profissão, a gente precisa de estrutura. Então porra, se a gente ta pagando imposto pra enriquecer um bando de bandido, vamo botar um pouco mais em cultura e arte né? Do futuro a gente espera muito trabalho, aprendizado, conhecimento. Nós somos um grupo que buscamos muito se aperfeiçoar constantemente, não só no quesito técnico, mas como pessoas mesmo. Parece que cancelaram o futuro mas a gente só vai parar quando até chegarmos na última carta! Uma curiosidade, a gente segue a ordem do tarot, a gente fez esse pacto de ir até o 22 álbum, então a gente não pode morrer antes não!








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