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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Cem anos de Corinthians: a festa dos proletários



Amigo torcedor, amigo sofredor, quando o Corinthians completa mais um ano de vida, as luzes da cidade ficam cintilantes, parecendo que tomei um daqueles ácidos dos anos 60. Quando o Corinthians completa mais um ano de vida, a gente esquece relacionamentos amorosos e essa coisa toda, porque o que realmente importa é mais um ano na vida do alvinegro.


Quando o Corinthians ganha um título os proletários tomam as ruas e os botecos pé sujo da região norte de Goiânia. Pode ser o trabalhador da indústria têxtil, lá de Aparecida de Goiânia, ou um operário do texto, isto é, o jornalista, escravo do lead, sublead e corpo da matéria, pião intelectual.


É o pedreiro que está cansado de ouvir as lamentações de seu patrão e, por isso, o Corinthians é sua única esperança de vida, ou pode ser o engravatado que acha uma merda ouvir os causos burocratas. É todo mundo, sem etnia, sem credo, nem nada disso. É Corinthians, pura e simplesmente!


O corintiano historicamente está do lado do seu time nos momentos mais complicados. A bola pode cismar em não entrar – como, aliás, ocorre com frequência no futiba, como vem ocorrendo neste escrete de Osmar Loss, eita ano dolorido, hein, nação!


Alguém pedirá demissão do trabalho, como fora feito em 2012, no Mundial, para contemplar o Timão, ou irá trabalhar com uma sonora ressaca que faria o velho Marx rever toda a teoria da mais-valia, já que a máxima dos botecos é sábia: um trabalhador de ressaca diminuiu 50% o lucro do patrão.


Seu Xavier, homem de Deus, traz mais uma, por obséquio.


O título brazuca do Coringão, no ano passado, era algo impensável e inenarrável, pois a equipe não tinha a preferência da crônica esportiva. Hoje, todavia, a especulação virou realidade, e o Timão foi eliminado da Libertadores e está no meio da tabela no Brasileirão.


“Corintiano sempre acredita”, sacramenta seu Jair, 52, boêmio e alvinegro com RG e CPF. “Dane-se o patrão, eu quero é comemorar”, frisou ele, após o árbitro assoprar o apito e decretar o término do certamente.


Seu Jair é fogo na roupa! Também pudera. O homem é motorista de um jornal de Capital goianiense, e tem de conviver com salários atrasados há quatro, cinco anos. A única alegria dele é abrir uma Bavária, bebericar uma cachaça e ver o Timão no boteco da esquina, cantando e abraçando desconhecidos que também torcem para o Timão.


Pense numa criatura que tem a alma leve. É tradição dele ver o Timão toda quarta e domingo. “Às vezes, minha esposa pergunta se eu não a amo, porque sempre estou com os olhos vibrados na Tv”, disse.


Outro corintiano que segue ao pé da letra a alcunha de sofredor é Seu João, 49. Com apenas o ensino fundamental completo, ele crê que o título corintiano dará uma realçada na alma de todos aqueles que tem de aguentar de bico calado as amarras do dia a dia.


“Rapaz, eu tentei jogar bola na vida, mas não consegui ir muito longe por conta de uma pancada que levei no joelho”, conta ele. “Essa não tiro para nada”, brada, apontando para a camisa do Corinthians preta e branca.


Por essas e outras é que vos digo: o Corinthians e, por conseguinte, o Corinthianismo é uma expressão genuinamente popular e brasileira. Aquele cara que tem a chance de, uma única vez na vida, sentir-se campeão.

Toquinho, autor do hino da Democracia Corintiana, Corinthians do meu Coração, dizia: “Ser corintiano é também ser um pouco mais brasileiro”.

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