- Júlia Lee
O fascismo do século XXI

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Fascismo. Substantivo masculino. Movimento político e filosófico autoritário, onde os conceitos de raça e nação são superiores aos valores individuais. Exemplo de regime fascista: Itália, 1932, por Benito Mussolini.
Século XXI, ano 2018, a crescente onda do discurso de ódio ameaça cada vez mais as liberdades individuais. Ataques cotidianos à refugiados, guerras em nome de um ‘Deus’ supremo em terras ‘sagradas’ porém com apoio de governos preocupados com a corrida armamentista. A volta do conceito da supremacia branca. Ataques à comunidade LGBT, mulheres, negros, pobres...
Brasil, pré-eleições, um candidato que faz campanha através do discurso de ódio tem 24% de intenção de votos, sendo o primeiro colocado nas pesquisas. “É pra fuzilar os petralhas”, “Você só não merece ser estuprada porque é muito ruim, feia demais”, "Eu fui num quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas!”, “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, entre outras declarações fazem parte do cotidiano do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL).
“As pessoas não têm mais receio em expor o ódio que elas têm contra as minorias, isso é reflexo dessa ascensão mundial do fascismo. Mesmo a gente tendo leis, essas pessoas sabem que não da nada, elas saem impunes”, afirma G. – que não quer ser identificado por medo de ataques.
G. é uma das inúmeras pessoas negras LGBT’s que sofreram ataques nos últimos dois anos, ele conta que “estava no ônibus, com um shortinho e com meu cabelo todo trançado e um careca ficou me seguindo. Eu troquei de ônibus e ele continuou me seguindo, até que eu consegui descer em um ponto onde eu despistei o cara. Mas o medo é constante, tenho amigxs que já apanharam muito na rua por serem LGBT”, relata G. que recentemente foi alvo de xingamentos de uma mulher branca nas redes sociais, onde a mesma falava “você preto gay não pode sair na rua, vocês são uma aberração, tenho nojo”.
“Todo viado tinha que morrer!” dizia o homem enquanto batia em Ton Paulo, que é gay. Ton voltava da faculdade a pé, e estava praticamente na porta de casa quando foi atacado por um homofobico, no final de 2017. “Aumentou muito os ataques contra as mulheres, negros e LGBT’s nos últimos dois anos, o próprio cara que me agrediu falou que a polícia não ia fazer nada com ele”, conta Ton.
Para Ton, os homens brancos da classe média sabem que seus privilégios os impedem de serem punidos, e que a justiça brasileira também é racista, vide o caso de Rafael Braga, jovem negro que foi preso em um protesto no Rio de Janeiro, portando apenas um desinfetante Pinho Sol.
“Esse fascismo está ficando cada vez mais explicito no Brasil porque essas pessoas fascistas têm agora representatividade, de uma forma que o ódio deles fica acobertado de opinião. Mas isso é a intolerância que ganhou porta-voz”, explica Ton Paulo, que é estudante de jornalismo.
Já Fabrício Rosa que é o Policial Rodoviário, especialista em Direitos Humanos e candidato ao senado pelo PSOL afirma que “a gente não se imaginava nesse lugar há 3 anos atrás, eu acredito que tem que ter uma frente antifascista de todas as pessoas que queiram lutar contra isso independente da questão partidária”. No dia 22 de agosto policias rodoviários protocolaram uma ação na Controladoria Geral da União (CGU) contra Fabrício por ele fazer “apologia ao uso de drogas” e por ser assumidamente gay, o candidato ao senado configura esse processo como preconceito com a sua sexualidade.

Print do processo contra o candidato ao senado pelo PSOL Fabrício Rosa.
“É uma denúncia homofobica, porque umas das reportagens que colocam como exemplo só fala que eu sou gay”, desabafa Fabrício. A censura está conseguindo se instalar amplamente em diversos níveis das esferas sociais, da institucional às ruas, quanto mais avança o discurso de ódio no mundo mais a sensação de medo ecoa pelas pessoas que vão contra a hegemonização do ser. Para G. ainda vivemos em uma ditadura, onde ele sente cada vez mais a censura “porque se a gente se impõe a gente é morto, como Marielle e Anderson, se a gente expõe o que ta rolando a gente é ameaçado, nós não temos segurança nenhuma”, conta.
Para Ton, precisamos de representatividade “quanto mais bicha preta da favela, mulher, transexuais e LGBT’s estiverem ocupando o poder mais direitos iremos garantir, porque senão os fascistas vão continuar batendo na gente na rua”.
Já Fabrício acredita na criminalização do discurso de ódio, “não indo pra cadeia porque eu sou abolicionista, mas perdendo patrimônio e fazendo serviços pra comunidade” explica.
O povo brasileiro vive na incerteza do futuro, a população está com medo e esse geralmente aumenta a violência, a intolerância, o ódio. O medo da fome, da falta de emprego, de não ter qualidade de vida transforma os analfabetos políticos em fascistas em potenciais, Hitler só ascendeu ao poder pelo medo da população em não conseguir enxergar um futuro social melhor pós primeira guerra mundial. Com a incerteza política, econômica e social que vivemos, o combate ao fascismo é estritamente necessário para a manutenção da liberdade.