JM
Antivacinas e neo-facistas, dois lados de uma moeda
SAÚDE

A palavra vírus em uma tradução livre do latim significa toxina ou veneno. São as menores estruturas conhecidas que possuem genoma, ou seja, toda a informação hereditária que é passada de um individuo a seus descendentes, possuem entre 20 nanômetros a 300 nanômetros. Para se ter uma noção de quão pequeno pode ser um vírus, o diâmetro de um átomo de hélio é de 0,2 nanômetros, 2% do tamanho do menor dos vírus. Estes por sua vez moldaram a história da espécie humana.
Um dos vírus mais emplacáveis que castigaram a espécie humana foi o Orthopoxvirus causador da varíola. Este é por sua vez um dos maiores vírus em tamanho, tão grande que é possível ser visto por microscópios ópticos. A primeira vez que eu ouvi falar sobre varíola foi na infância onde me obrigaram a ler o romance de Jorge Amado, Capitães da Areia, onde há uma descrição de uma epidemia de varíola ou “bexiga” ou “bexigueira” como era popularmente chamada a doença na década de 1930. Ela tinha esse nome por ser responsável por formar na pele bexigas de pus que quando estouravam poderiam necrosar caso não fossem tratadas. 30% das pessoas morriam com a própria doença, um número desconhecido morriam por consequências indiretas dessa doença e quase todas as pessoas ficavam com sequelas graves. Entre as sequelas estavam a perda de visão, mobilidade e em alguns casos partes do corpo devido a necroses, ela era uma doença “democrática”, matava pobres e ricos, plebe e nobreza. Além de ter sido uma das maiores responsáveis pelo genocídio dos povos nativos das Américas. Sua forma de transmissão é a mesma que a de vírus como gripe ou ebola, bastava apenas contato com secreções ou saliva de pessoas contaminadas.
Não é de se estranhar que logo após o surgimento da vacina houvesse certa resistência da mesma, pois a população não acreditava no governo, mas a resistência sumiu e com o tempo o medo da morte, as sequelas da doença que falaram mais alto que a desconfiança. O mesmo aconteceu com vacinas de outras doenças como rubéola, sarampo e poliomelite, os casos dessas diminuíram a ponto de as doenças desaparecerem quase por completo, infelizmente só quase. Os casos se tronaram tão raros que surgiram grupos antivacinas, formados por pessoas que viveram em um mundo quase imunizado para dizer que vacinas não protegem de doenças, mas sim são agentes esterilizantes criados pelo governo para controlar a natalidade, outros dizem que chips com rastreadores são implantados juntos com a vacina pois poderosos querem saber onde você está o tempo todo, ou que são na verdade, vacinas são responsáveis pelo autismo.
A verdade é que a baixa vacinação pode trazer - e na verdade está trazendo - de volta doenças quase extintas. O que precisamos para que as pessoas possam se vacinar outra vez e vacinar suas proles? Uma nova pandemia? Infelizmente aquele velho clichê repetido em aulas de história mundo afora é verdade, estudar história no presente nos ajuda a evitar os erros do passado. No entanto, desconhecemos nossa história, nossos erros, isso custa caro a quem menos tem com o que pagar e que paga com o bem mais precioso que tem, suas vidas. Não canso de repetir essa frase, mas cá estou eu, a quem serve nossa ignorância? Doenças virais diferentes de opressões estruturais, matam aleatoriamente sem qualquer distinção. Fascismo ou totalitarismo, chame como quiser, mata aleatoriamente, mas só depois de escolher determinados grupos como inimigos públicos para serem exterminados antes.
Cidadães do Terceiro Reich ou Alemanha Nazista, eram mortos ou iam para campos de concentração simplesmente pelo azar de serem confundidos com comunistas, judeus ou por deixar algum soldado (mesmo que de baixo escalão) zangando. É preciso lembrar de milhões de mortes causadas pelo holocausto? É preciso lembrar as mortes em campos de concentração? É necessário colocar junto a este texto imagens chocantes de vítimas sendo enterradas depois de morrerem desnutridas? O que é preciso fazer para lembrar a vocês o horror da tortura das ditaduras para que até quem a pede de volta não corra o risco de sofrê-la? Esse analfabetismo científico pode nos adoecer e esse analfabetismo histórico vai nos matar mais ainda, pois já nos mata todos os dias.