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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

O bem mais precioso é a liberdade

Memória

No Dia de Finados, mostramos para você artistas que foram perseguidos pelos regimes totalitários do século XX

Apesar do título desta matéria citar a música Las Barricadas (1933), clássico hino do anarcossindicalismo espanhol durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), não é propriamente sobre a ditadura fascista de Francisco Franco (1892-1975) que eu quero falar. Após experiências desastrosas com regimes totalitários responsáveis por derramar litros de sangue no século passado, compreendo que milhares de mentes geniais foram perseguidas, torturadas, estupradas e assassinadas por líderes fardados que ascenderam ao poder como salvadores da pátria.


Horror à intelectualidade, perseguição aos artistas e a quem mais se opor ao regime totalitário. Tudo isso parecer uma premissa verdadeiramente distante de nós, mas tais sinais ainda assim deve ser combatidos. Nestes tempos em que negras tormentas não nos deixam ver, os ares estão agitados e nossa liberdade vem sendo ameaçada por paladinos da moral e viúvas (o) das ditaduras que reprimiram mentes geniais, expulsando-as de seus países e fazendo com que a população mergulhasse num ostracismo nefasto e criminoso. Cultura alimenta a alma e abre a percepção, o que por si só não é atrativo aos ditadores.


Esses desastres que serão lembrados servem para fazer com que não nos esqueçamos do passado e, assim, evitemos repeti-lo no futuro. Alguns indícios fomentados pelo ultradireita Jair Bolsonaro, vencedor das eleições para presidente e fã confesso dos anos de chumbo da ditadura civil-militar (1964-1985), levantam suspeitas acerca de como será o futuro nas terras tupiniquins. Será que teremos condições de resistir? Como vamos nos organizar daqui para a frente?


São tantas perguntas, mas poucas respostas.


Pensando nesses questionamentos, fiz uma pesquisa sobre as personalidades que foram assassinadas, ou perseguidas, nos regimes totalitários (seja nas ditaduras militares da América Latina nas décadas de 1960 e 1970 ou nos regimes totalitários entre as décadas de 1920 e 1930). Confira:


Victor Jara (1932-1973)



Célebre compositor de músicas antifascistas, o cantor chileno foi morto pelas tropas do general Augusto Pinochet (1915-2016) logo nos primeiros dias do golpe militar que depôs o presidente socialista Salvador Allende (1908-1973). A punição para o assassinato aconteceu quase 45 anos depois, quando os militares envolvidos foram condenados a 15 anos de prisão. “Uma punição tão tardia a entender como a brutalidade de uma ditadura vai muito além do período em que ela é delimitada”, disse o jornalista Maurício Brum, autor do livro reportagem Estádio Chile, 1973 – Morte Vida de Victor Jara, a Voz da Revolução Chilena (2014).


Pablo Neruda (1904-1973)



Nobel da literatura em 1971, o poeta chileno foi assassinada pelo regime de Pinochet no dia 23 de setembro de 1973. Amigo do escritor brasileiro Vinícius de Moraes (1908-1980), Neruda sempre teve um posicionamento ideológico à esquerda. Tanto que dedicou um poema para o líder comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990), o qual leu no Estádio do Pacaembu na década de 1940. Em seu livro de memórias Confesso que vivi (1974), escreveu que “aqueles aplausos tiveram profunda ressonância em minha poesia”. O diretor Pablo Larraín levou para as telonas a perseguição anticomunista sofrida pelo poeta, com foco na década de 1940.


Federico García Lorca (1898-1936)


Considerado um dos maiores escritores em língua espanhola do século XX, o poeta Federico García Lorca lutou contra o franquismo até ser fuzilado – junto com dois anarquistas - pelas tropas fascistas. García Lorca teceu declarações favoráveis à Frente de Luta (contrária ao regime ditatorial que se vislumbrava na década de 1930). Enviou telegrama assinado para o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), idealizador do Estado Novo (1937-1945), em que pedia a liberdade de Luís Carlos Prestes. Após sua morte, Lorca se transformou em símbolo de resistência contra o autoritarismo, tendo várias obras adaptadas para o teatro no Brasil durante os anos de chumbo. Até hoje o corpo do poeta não foi encontrado.



Vladimir Maiakovski (1893-1930)


O poeta da revolução se envolveu com política antes de arriscar os primeiros versos. Adepto do leninismo, filosofia que tem como principal expoente do revolucionário Lênin (1870-1924), Maiakovski fez parte do Partido Social-Democrata Russo e participou da Revolução de outubro de 1917, que colocou os Bolcheviques no poder. No entanto, após a consolidação do Estado socialista, o poeta tornou-se crítico ferrenho do sistema, sendo perseguido por Joseph Stalin (1878-1953). A morte do escritor não foi ocasionada pelo regime soviético. Maiakovski suicidou-se com um tiro, em 1930.



Antonio Gramsci (1891-1937)


O ditador fascista Benito Mussolini (1883-1975) chegou ao poder, na Itália, com o objetivo de trazer os gloriosos anos do Império Romano de volta. Neste meio tempo, que de fato nunca chegara a se concretizar, o líder deu início a uma caça aos opositores do regime. O filósofo marxista Antonio Gransci foi um dos perseguidos pelas tropas de Mussolini. Na prisão, escreveu o clássico Memórias do Cárcere (1953), conjunto de 29 cadernos onde ele se empenhou em explicar a importância das contradições e da cultura na transformação da sociedade. Morreu amordaçado pelo fascismo.



Torquato Neto (1944-1972)



Um dos principais nomes do movimento da Tropicália, o jornalista e poeta fugiu para a Europa logo após o anúncio do Ato Institucional Número 5 (AI-5). “Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido”, disse o artista. De volta ao Brasil, mergulhado em alcoolismo, Torquato começou a se isolar e passou por várias internações para tratar. Suicidou-se no dia em que completou 28 anos, depois trancar-se no banheiro com gás ligado, fazendo com que muitos acreditassem que ele foi morto pela ditadura.

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