- Rosângela Aguiar
Luto é verbo. Resistir é preciso
Entre Palavras e Sabores

Os mais de 46 milhões de eleitores que votaram em Fernando Haddad passaram a semana em luto. Somam-se a esses, os outros 42,1 milhões de eleitores que votaram em branco, nulo e que não compareceram às urnas no segundo turno das eleições presidenciais, porque estes também, por outros motivos, estão de luto e se colocam de certa forma, numa posição de resistência. Há os que vão discordar desta minha análise, mas pelas demonstrações de preocupação vistas nas redes sociais e por se colocarem contrários aos posicionamentos do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que é de extrema-direita, e apesar de que certa forma fizeram como Pôncio Pilatos, lavaram as mãos nestas eleições, podemos tirar essa conclusão.
Luto, segundo os dicionários de Língua Portuguesa, significa um estado de tristeza por perda de um ente querido, por amargura e desgosto. Mas também é a flexão do verbo Lutar na primeira pessoa. Eu luto. E neste caso, Luto é verbo, traz a ambiguidade dos dois significados. Por que muitos de nós podemos estar tristes e até com medo (e com razão), mas iremos lutar pelo o que acreditamos ser melhor para todos e não apenas para uma minoria.
A Resistência entra nesta frase para complementar o verbo, uma vez que resistir é não sucumbir, não ceder, não baixar a cabeça e conservar-se firme em suas posições. Então: Luto é verbo. Resistir é preciso.
E diante do que vimos nas declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro e seus aliados e futuros ministros, mais do que nunca é preciso resistir e lutar. Uma vitória, pequena é verdade, já foi conseguida no Senado com a aprovação de uma audiência pública para discutir as modificações na Lei Antiterrorismo e que podem criminalizar movimentos sociais e estudantis, o que tornará nosso ato de lutar e resistir mais difícil, quase nos fazendo voltar aos anos de chumbo. E isto é, no mínimo, preocupante.
O levante de muitos brasileiros e a chuva de críticas a uma fusão dos Ministérios do Meio Ambiente e Agricultura já fez o governo eleito dar uma recuada na proposta. E isto também pode ser visto como uma pequena vitória dos que se colocam na posição de resistência. A junção destes dois ministérios seria o mesmo que colocar o lobo para cuidar do galinheiro e colocaria em risco as áreas de preservação ambiental e ações ambientais mais do que já estão correndo com a visão do governo eleito de que é preciso flexibilizar as leis ambientais e sair de tratados internacionais, como o de Paris.
Alguns recuos que o governo eleito têm tido em apenas uma semana de ter sido consagrado nas urnas demonstra que ainda é cabe sonhar, de que é preciso lutar e resistir. E para mim, Luto é Verbo. Resistir é preciso. E devemos ficar alertas e despertar deste momento de luto porque ainda cabe sonhar.