Marcus Vinícius Beck
Barão Vermelho lança primeiro single com novo vocalista
Música
Após a saída de Roberto Frejat, o Barão colocou como prioridade a renovação de seu repertório

Capa do single A solidão te engole vivo. Foto: Divulgação
Cara nova e sangue rejuvenescido. Desde que o cantor Rodrigo Suricato substituiu o compositor e guitarrista Roberto Frejat no posto de vocalista do Barão Vermelho, a banda carioca oitentista caiu na estrada e tocou em diversas cidades pelo Brasil. Em turnê nacional com o show #Barãoprasempre, o quinteto icônico do rock nacional apresenta para o público na voz do novo frontman clássicos que marcaram a carreira do grupo ao longo de 37 anos. No meio de todo esse turbilhão, o Barão ainda perdeu o baixista Rodrigo Santos, que anunciou sua saída do Barão em novembro de 2017.
Apesar dessas pedras no meio do caminho, a verdade é que a banda imediatamente após a mudança na formação buscou renovar seu repertório. Afinal, para se manter firme e forte na estrada depois de tanto tempo é necessário novas receitas, ou senão outras maneiras de fazer as velhas, não é mesmo? Sim, a prova disso é que a música A solidão te engole vivo chegou ontem em todas as plataformas digitais. Tecladista da primeira geração da banda, Maurício Barros é autor da composição ao lado do baterista Guto Goffi e o guitarrista Fernando Magalhães.
O single contém o D.N.A melódico e roqueiro do Barão Vermelho. Assinado pelos integrantes da banda, o arranjo pesa a mão na medida certa, fazendo com que a música fique exatamente na fronteira entre o rock e a balada. A linha de baixo é de Márcio Alencar (substituto de Rodrigo Santos nas quatro cordas), que participa dos shows como músico convidado desde dezembro do ano passado. Com uma letra que lembra a canção Meus bons amigos, do disco Carne Crua (1994), a banda enaltece os amigos nesses dias em que a grande sacada é a quantidade de curtidas nas redes sociais.
Música gravada em junho deste ano, nos estúdios cariocas Toca do Bandido e Estúdio 2, a Solidão que te engole vivo é uma interessante amostra do que devemos esperar do Barão no próximo disco, que deve ser lançado no ano que vem. O que é possível adiantar de antemão é que o rock baroniano ainda segue totalmente eletrificado, demonstrando que o melhor remédio para combater as enfermidades provocadas pelo tempo é o tesão de subir no palco com amigos. O barão é o Rolling Stones da terra tupiniquim, só que com um agravante: é mil vezes mais original.
À sombra das tempestades

Desde a saída de Frejat, banda busca renovar repertório. Foto: Divulgação
Seria uma tremenda desonestidade jornalística não reverenciar a capacidade de o Barão Vermelho se reinventar. Com um passado repleto de glórias, tendo discos como Maior Abandonado (1984) e Carne Crua (1994) no museu de patrimônio do rock nacional, é preciso iluminar mais cidades de um milhão de habitantes com as duas guitarras flamejantes. Os remanescentes ignoram o baque provocado pela perda dos amigos (Cazuza deixou a banda em 1985 para seguir carreira solo, caminho também escolhido pelo parceiro Frejat três décadas depois) e mostram que ainda possuem bastante combustível para queimar.
Certamente a maior prova de que essas minhas palavras fazem algum sentido seja o compilado de clássicos lançado no ano passado. Primeiro trabalho na voz de Rodrigo Suricato, o disco conta com versões pra lá de rejuvenescidas de Pro dia nascer feliz, Tão longe de tudo e Eu queria ter uma bomba. Se você acredita que eu estou pegando pesado nessas linhas, recomendo acessar a plataforma de streaming Spotify e conferir o álbum na íntegra. Do caralho!
Assisti-os no festival Porão do Rock, no dia 30 de setembro deste ano. Digo sem nenhum medo de parecer presunçoso que o que me chamou atenção foi a fodástica versão de Pro dia nascer feliz. Ora, existe algum crime crucial em reconhecer que o show dos caras me reconciliou com a vida? Pois é, o rock deles ainda me pareceu terrivelmente puro, sem firulas, muito menos frescuras. Trata-se de uma torrente de experiência provocada por mais de três décadas de estrada, colecionando fracassos comerciais (ah, foda-se essa merda aí) e sucessos geniais.
Então, para finalizar essa resenha, ressalto que, em tempos onde a Música Popular Brasileira (MPB) encontra-se pasteurizada, nada melhor do que ver e ouvir Fernando Magalhães (guitarra), Maurício Barros (teclado), Guto Goffi (baterita), Maurício Alencar (baixo) e Rodrigo Suricato (vocal e guitarra) tocar com tesão. Barão é isto: uma galera que, antes de mais nada, curte fazer um som com amigos. Como em 1981.