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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Jim Morrison: o Lizard King do rock

Música

Há 75 anos, nascia em Melbourne, na Flórida, o poeta Jim Morrison. Cantor entrou para a história como um dos maiores mártires do rock

“Seus poemas e canções continuam provando, com excelência, que só a morte pode salvar da morte” - Michael McLure, poeta beat e amigo de Jim Morrison.

Para falar em Jim Morrison, figura mítica que marcou os anos loucos de 1960, certamente as palavras, cantor, compositor e líder da banda de rock psicodélico The Doors poderiam ser substituídas por poeta, provocador e sensual. Morrison era louco, mas tão louco que chegou a levar ao pé da letra a frase do escritor romântico inglês William Blake (1757-1827) - “se as portas da percepção estivessem abertas, tudo pareceria como realmente é: infinito”. Jim era fascinado pela experiência de seus sentidos e destinou sua vida para desafiar autoridades e semear caos por onde passava.


Trajando calças de couro que não deixavam nada para depois, o Lizard King (Rei Lagarto, em tradução livre) era considerado um dos maiores ícones do rock e vivia estampado em capas de revista, exibindo suas feições apolíneas. Mas toda essa fama e bajulação não significavam nada para o vocalista dos Doors. A enorme quantia de grana que ele ganhava ia para uma conta conjunta que a banda tinha. Portanto, Morrison era um sujeito que não ostentava um estilo de vida caro, como é comum entre roqueiros que fazem sucesso. O poeta não possuía carro, nem casa própria. Passou os anos de fama morando em hotéis vagabundos, em Sunset Strip.


Bem, após uma breve introdução sobre quem era esse tal de Jim Morrison, vamos aos fatos. Há 75 anos, nascia em Melbourne, na Flórida, Douglas James Douglas Morrison, primogênito de um militar da alta patente da Marinha dos EUA. Na casa em que fora criado, reinava a ordem, a disciplina e a retidão. Por conta da carreira de George Stephen Morrison, pai de Jim, a família mudou-se diversas vezes de cidades e estados. Mas tudo isso acabou quando o Rei Lagarto ingressou no curso de cinema da Universidade da Califórnia (UCLA), em 1964. Uma vez na Califórnia, praticamente cortou laços com seus pais e dali em diante dedicou-se a filmes de curta-metragem, poesia e, pouco tempo depois, música.


Leitor voraz desde a infância, foi influenciado pela poesia beat de Allen Ginsberg (1926-1997), especialmente pela obra Howl (1957), e pela prosa transgressora de Jack Kerouac (1920-1969), eternizada no romance On the road (1957). Também curtia os simbolistas franceses, Arthur Rimbaud (1854-1891) e Charles Baudelaire (1821-1867), e reverenciava os ensaios sobre arte de Nietzsche (1844-1900). Em Jim Morrison: Ninguém Sai Daqui Vivo (1979), o jornalista Jerry Hopkins relatou que certa vez um professor de inglês ficou encantado com o conhecimento literário de Jim. “Mas tudo era tão inusitado que outro professor (que estava indo para a Biblioteca do Congresso) foi checar se os livros que relatava realmente existiam”, escreveu.


A literatura teve tão presente na vida do xamã (outro vocativo bastante usado para referir-se ao poeta) que até o nome da banda fora inspirado em um livro. The Doors é uma referência direta a um ensaio psicodélico do escritor britânico Aldous Huxley (1894-1963), The Doors of Perception (As Portas da Percepção, em tradução direta). Huxley tinha tirado o nome de um trecho de The Marriage of Heaven and Hell (O Casamento entre Céu e Inferno), de William Blake, poeta que Morrison era fã.


The Doors


Contracapa do disco Morrison Hotel, de 1970.


De 1965 a 1971 (ano de sua morte), Morrison foi vocalista da banda que formava com Manzarek, em Venice, na Califórnia, após lhe mostrar trechos de uma poesia que viria a ser a música “Moonlight Drive”. O grupo produziu seis álbuns em cinco anos, mas com música líricas, como “The End”, “Love Me Two Times”, “Light My Fire” e “L.A Woman”, que entraram para a história do rock e marcaram os turbulentos anos sessentistas. As composições dos Doors eram uma fusão de blues, jazz e rock. De forma visceral, conseguiram captar a atmosfera de rebeldia que pairava no ar naquele tempo.


Amigo do vocalista dos Doors, o poeta e expoente da geração beat na década de 1950 Michael McLure escreveu que a presença de Jim era suficiente para criar uma onda vibrante. “Ele está lá como uma estátua brilhante cantando nas luzes do show e na amplificação. Mas seus poemas e canções continuam provando, com excelência, que só a morte pode salvar da morte”, disse o escritor, no posfácio da biografia Jim Morrison: Ninguém Sai Daqui Vivo, lançado no final da década de 1979.


“Eu sempre fui atraído por ideias que eram sobre revolta contra a autoridade. Eu gosto de ideias sobre o rompimento ou a derrubada de uma ordem estabelecida”, explicou em uma entrevista que concedeu ao jornalista Jerry Hopkins, em 1969. Sua carreira teve como eixo central diversas formas de confronto e provocação. Em março de 1969, durante show em Miami, Morrison baixou as calças e mostrou seu pênis para a platéia. Foi julgado e condenado a seis meses de prisão, conforme é narrado no documentário A História de L.A Woman (2014).


L.A Woman


Doidão e culto, Morrison atraia multidões por onde quer que passasse. Suas apresentações eram uma espécie de catarse contra a caretice propagada por representantes do conservadorismo nos Estados Unidos. Ora, de qual forma o mítico vocalista dos Doors iria encarar isso? Com posturas provocadoras, é claro. Então, um simples shows dos Doors era uma paulada na cara do status quo e do próprio estilo de vida dos norte-americanos, o qual Jim era crítico ferrenho.


O comportamento de Morrison fez os Doors serem banidos das rádios, fazendo com que os discos da banda fossem recolhidos das lojas. Vários shows foram cancelados e o sistema judiciário dos Estados Unidos começou a perseguir Robby Krieger, Ray Manzarek, John Densmore e Jim Morrison (o principal alvo das autoridades). Em meio a esses problemas, a banda ainda lançou o disco Morrison Hotel (1970) - com uma pegada mais voltada ao blues. O álbum conta com clássicos como “Roadhouse Blues” e “The Spy”, mas não chegou a ser necessariamente um sucesso de vendas.


Longe dos estúdios, Morrison tinha problemas com drogas e álcool que, somados a sua mentalidade autoritária, resultaram em inúmeras crises entre os membros. Mas a cereja do bolo mesmo fora o disco L.A Woman (1971), último trabalho da banda com Jim ainda vivo. Com uma sonoridade mais raiz que o anterior, esse disco contou com a presença do baixista Jerry Scheff (1935-1977), que tocara com o cantor Elvis Presley (de quem Jim era fã) anos antes. Desse trabalho, resultaram a faixa-título, “Love Her Madley” e “Riders on the Storm”.


Antes do lançamento, contudo, Morrison mudou-se para Paris com sua namorada Pamela Courson Morrison com o objetivo de dedicar-se à poesia e livrar-se do consumo excessivo de álcool. Em 3 de julho de 1971, porém, Morrison foi encontrado sem vida na banheira de sua casa. Jim morreu exatamente dois anos depois de Brian Jones (um dos fundadores dos Rolling Stones), dez meses após Jimi Hendrix (1942-1970) e nove depois de Janis Joplin (1943-1970). O cantor faz parte do famigerado “Clube dos 27”.



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