Marcus Vinícius Beck
Por menos tretas no Natal
Botequim Literário do Beck

Sei que é um pedido pra lá de utópico neste louco ano de 2018 que cisma, pasme, em não acabar. Mas farei mesmo assim um apelo, afinal de contas perder (seja o que for, como o antropólogo Darcy Ribeiro, de quem tenho admiração, você deve saber) é minha sina. Ora, amigo leitor (a), vamos despolitizar por completo o peru natalino. Que o País - e nós, em especial - possamos voltar a nos relacionar com aquele tio reaça, com aquela prima rica e com o maridão chatíssimo dela. Difícil, né?
Por um peru sem partido, vai é só uma noite, segura a onda colega. Garanto que a frase mais ideológica que falarei neste momento será “divida a farofa comigo, tio”. Não, não tenho a menor pretensão em cair na tentação de criticar a uva passa, essa grande unanimidade nacional (mais até que o Coringão ou Flamengo).
Por um natal sem cores, nada de vermelho, nem verde e amarelo. Combine com a família que o Papai Noel (essa entidade ultra comunistinha), agora, será bege, para evitar aquela encheção de saco, sabe? Devo te dizer que tais providências, por mais que sejam pequenas, são imprescindíveis para os novos tempos que se anunciam (tô ansioso até para saber como Carille vai armar o Timão no ano que vem e como Bolsonaro vai governar, mas, bem, esses são outros assuntos...)
Vamos deixar a ceia alheia ao marxismo cultural, por mais olavismo (aff, que excrescência) entre garfadas e piadas horripilantes. Que a origem da orgulhosa ave pernalta também possa estar fora do alcance da polêmica – dane-se se isso tudo rolou nos quintais industrializadas, símbolos do capitalismo de ponta, ou se foi nas terrinhas dos empresários metidos nos escândalos de Caixa 2.
Ah, antes que este lesado cronista esqueça, cuidado com os presentes. Apesar de ser maravilhoso ganhar um livro, tal benfeitoria pode gerar um tremendo sururu na tradicional hora da entrega dos presentes. Vai brincando, até o O Pequeno Príncipe pode ser alvo da histeria coletiva da tosca família tradicional brasileira. São tempos loucos.
Sei que a tua vontade é de dar um “kit gay” para o tio inconveniente do pavê, porém recomendo que você tenha muita calma nessa hora. Tira dessa zoada cabeça algo do tipo, ‘ah, vou passar ali naquele sex shop fuleiro para dar uma “mamadeira de piroca” para minha tia. Porra, segure as pontas.
Saia fora com essa de ofertar à meninada, à guisa de provocação, ironia ou cinismo barato, o polêmico volume Aparelho Sexual e Cia. Sim, é óbvio que falo daquela obra citada por Bolsonaro, em pleno Jornal Nacional, durante a campanha que o levou ao Palácio do Planalto, com o objetivo de mostrar a perversidade da esquerda tupiniquim e assombrar a sonsa e burra família brasileira, motivo de piada por parte deste escriba até hoje. Aff...
Poxa, bem lembrado: recomende que o WhatsApp seja desligado, pois será difícil conversar com o turbilhão de informações acusando o PT de sandices inimagináveis. Sem dúvida, o eterno tio Godofredo, como aquele personagem dos contos do Nelsão Rodrigues, mandará uma mensagem explicando que surtiu um imprevisto e, por isso, ele irá se atrasar, quando na verdade o desgraçado está na casa de Mercedes, sua amante desde 1968.
Calma, amigo, é só o Natal. No Réveillon você aproveita e vai para Cuba (yes, a terrinha que até hoje é alvo de paranoia por parte da nova direita, estapafúrdia por natureza e chula por definição) e Bahia, que ótimo, habitat do escritor genial Jorge Amado.
Pois é, não foi isso que os delirantes recomendarem neste ano?