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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

O maior diretor italiano de todos os tempos

Cinema

Após 25 anos da morte de Federico Fellini, legado deixado pelo cineasta italiano vai muito além dos elogios tecidos pelos críticos e prêmios conquistados

Federico Fellini consolidou seu nome entre os maiores diretores de cinema. Foto Reprodução


Genial. Essa palavra é utilizada com frequência para descrever os filmes feitos pelo diretor italiano Federico Fellini (1920-1993). Com o nome sacramentado na história da sétima arte, Fellini dirigiu e escreveu obras do calibre de A Doce Vida (1960) e Oito e Meio (1963) e selou uma parceria marcante com o ator Marcello Mastroianni (1934-1996). Até sua morte, em 1993, o diretor chegou a conquistar quatro Oscar de melhor filme estrangeiro, fazendo dele e do cineasta conterrâneo Vittorio De Sica (1901-11974) os recordistas em faturar estatuetas na maior premiação cinematográfica do planeta.


Fodástico, não? Sim, mas veja bem: 25 anos após a morte do maior cineasta italiano de todos os tempos o legado do cara vai muito além de meros prêmios conquistados em festivais e elogios feitos por críticos cinematográficos que tem na gênese do rolê o cheiro para encontrar erros em obras intelectuais. Ora, porém você que quer seguir lendo esta matéria, deve estar ciente de que encontrará uma tremenda rasgação de cera nas próximas linhas, pois Fellini está para o cinema assim como o guitarrista norte-americano Jimi Hendrix (1942-1970) para a música.


Responsável por longas-metragens como Taxi Driver (1976) e Os Bons Companheiros (1990), o cineasta norte-americano Martin Scorsese declarou recentemente à BBC que assiste todos os anos o clássico Oito e Meio, filme que conta com influência da teoria psicanalítica do suíço Carl Jung (1875-1961), discípulo do austríaco Sigmund Freud (1856-1939). “Oito e meio sempre foi um marco para mim, de muitas maneiras. A liberdade, o senso de inovação, o rigor subjacente, o profundo núcleo de desejo, o encantamento, a atração física dos movimentos de câmera e composições. A cada atributo, parece mais difícil superá-lo”, disse Scorsese.


Fellini levou - e ainda continua levando, vamos ser honestos - os espectadores à experiência registrada apenas quando estamos chapados daquele ácido potente. Apesar disso, os críticos sempre tiveram uma relação conturbada com o diretor. Ué, caro escriba, você não afirmou que o cineasta recebeu boas críticas ao longo da carreira? Sim, só que isso nunca impediu que essa galera tecesse comentários espinhosos acerca do estilo do autor de A Doce Vida. Na resenha de Oito e Meio, para você ter uma ideia, a crítica estadunidense Pauline Kael colocou o filme na mira de sua espingarda retórica.


"A fantasia da vida de alguém é um material perfeitamente bom para um filme, se ela for imaginativa e fascinante por si só, ou se ilumina a vida real de alguma maneira interessante", escreveu. "Mas Oito e meio não é uma coisa nem outra; é surpreendentemente parecido com os sonhos das heroínas de Hollywood, levado por ideias apropriadas de ansiedade freudiana e realização de desejos", afirma Kel. Parecido ou não com as heroínas de hollywood com ou sem teorias freudianas, o longa-metragem em questão é um filmaço. Vale esforço para vê-lo, viu?


Começo


Natural da cidade de Rimini, na costa do Mar Adriático (cenário que inclusive serviu de locação para os filmes Amarcord e Roma), Fellini entrou no mundo do cinema como roteirista do clássico longa-metragem do cinema neorrealista Roma, Cidade Aberta (1945), do diretor Roberto Rossellini (1906-1977). Ninguém, no entanto, poderia imaginar que alguém iria virar completamente as costas para o realismo (ou qualquer expressão artística do tipo) como o diretor de Oito e Meio faria.


Os primeiros trabalhos de Fellini foram inspirados na obra de Rossellini, como Os Boas-Vidas (1953), mas essa influência acabou sendo deixada de lado pelo sentimentalismo de Na Estrada da Vida (1954) e As Noites de Cabíria (1957), obras que mostram um senso de humanidade entre artistas de circo e prostitutas. Em seguida, o diretor lança A Doce Vida - filme que passeia pela burguesia entorpecida e, em certos casos - na maioria deles, é verdade - emburrecida, traçando um perfil ferino dessa classe social no contexto pós-guerra.


Ah, antes de mais nada: o longa-metragem, um dos principais filmes de Fellini, trata-se de uma aula sobre o anseio existencial e hedonista das décadas de 1950 e 1960, alimentado pelo charme do protagonista Marcello (Marcello Mastroianni) e por um punhado de cenas que ficaram eternizadas na memória coletiva dos fãs da sétima arte, como o banho sensual da atriz sueca Anita Ekberg, colocando o diretor no seleto rol dos grandes da sétima arte.


Expressando-se através de seu alter ego - sim, refiro-me à Mastroianni -, Fellini transformou Oito e Meio em sua obra com tom mais reflexivo - também um dos seus longas mais engraçados. No final da década de 1960, ele começaria mais um novo capítulo em sua carreira, fazendo com que a narrativa fosse secundária ao espetáculo. Isso tudo foi possível ver em Satyricon (1969). Os títulos que vieram nos anos de 1970 não eram nem a sombra do velho Fellini, mas ainda assim ele conseguiu o Oscar honorário pelo conjunto da obra. Merecido.

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