- Lays Vieira
O Brasil flertando com a ex
Artigo

Manifestante em ato contra o aumento da passagem em São Paulo. Foto: Júlia Lee
Vamos fazer alguns pequenos paralelos um tanto quanto elucidativos:
Eleições conturbadas. Economia ainda com vários problemas e propostas do governo que visam privatizações, cortes de direitos e abertura para capital externo. Ascensão mundial da extrema direita. Uma já longa descrença na política institucional tradicional em paralelo com grandes escândalos de corrupção. Corrupção essa que foi um dos grandes marcos das campanhas, assim como fake news e uma alucinação coletiva, que atingiu parcela significativa da população, de que socialismo e comunismo significa morte, fome (e por isso só existe gente magra em país socialista – sim, meus caros, teve gente falando isso), pobreza, não poder ter carro do ano e iphone, ser obrigado a usar vermelho, virar gay, marxismo cultural, matar oposição e mais um monte de asneira.
Muitos eleitores do atual governo, inclusive, declararam seu voto, não por concordar com seu discurso conservador e de ódio, mas por que, teoricamente, seria algo novo e livraria o país da corrupção. A outra parcela de seu eleitorado, votou por que concorda mesmo que direitos humanos é coisa de bandido, viado tem que apanhar mesmo, família é só entre homem e mulher, cristianismo é religião de verdade o resto é coisa do capeta e por aí vai a sandice. Tudo associado a governos, partidos ou vertentes de pensamento de caráter progressista é visto de forma negativa por essa parcela da população.
O novo governo assume. Medidas polemicas. Volta atrás na decisão. Embates com a grande mídia, discussões diárias entre a sociedade civil nas redes sociais, fake news e falas polemicas de ministras para abafar decretos insanos. Então, um presidente que prometeu acabar com a corrupção vê um de seus filhos no centro de um grande escândalo de...corrupção.
O ministro da justiça se cala. O chefe da família então, em viagem oficial, vai a um grande e visado evento econômico internacional e passa vergonha. O “mito” não “mitou”. Durante essa viagem, o vice-presidente, então no poder, e militar, muda a lei de acesso a informação e amplia a possibilidade de sigilo. Parlamentares eleitos de oposição renunciam ao cargo, declarando que por ameaças vão sair do país. Oposição essa que veio se fragmentando nos últimos anos e agora se encontra, aparentemente, totalmente debilitada.
Se não há uma saída plausível no horizonte à esquerda, se não há uma saída ao centro e se a direita vem a cada dia se mostrando ineficaz (coisa que todo mundo já sabia), tem-se um cenário onde cada vez mais o país se aproxima de um grupo que já esteve no poder antes, os militares. Se o cenário brasileiro atual não é um flerte com a ditadura eu não sei mais o que é!