top of page
  • Guilherme Turati

Essa é a América?

GRAMMY 2019


Em maio do ano passado, Donald Glover lançava o video da música This is America. Horas depois, não se falava de outra coisa nas redes sociais (ou fora delas).


Uma música poderosa e descarada começa com o que parecia mais uma sobre festejar e dançar com uma mulher, até que sem aviso algum Childish Gambino (nome de palco de Glover) puxa uma arma e atira na cabeça de um homem que estava tocando um violão sentado. “Essa é a América, não dá mole” abre caminho para todo o resto.


Em meio das danças popularizadas, principalmente na internet, como forma de valorização da cultura negra, a letra fala sobre armamento, policiais, guerrilha e dinheiro, tudo isso com fortes imagens que remetem desde Jim Crow (uma figura caricata do século 19 que satirizava a população negra) ao tiroteiro em Charleston, igreja predominantemente negra, feito por um supremacista branco.


Enquanto Donald dança, há cenas de perseguições policiais e revoltas, alfinetando talvez o uso recente da cultura afro-americana como distração para todos os problemas do país logo acima de nós. Não que seja algo apenas de lá.


O ponto aqui, entretanto, não é analisar um video que foi torcido e espremido diversas vezes sob diversos pontos de vista no Twitter, Youtube ou mesa de bar.


A composição artística (toda a parte visual e musical) altamente política de Gambino ganhar um Grammy em tempos como estes é interessante e levanta, assim como seu video de quase um ano de idade, diversos pontos; a Academia quer fazer média? É um ato político? Não sei. Mas houve um impacto.

This is America é um retrato fiel de seu tempo, tempo esse de paranóia, violência, falta e privação de direitos e homens loucos no poder. Donald Glover já ganhou diversos prêmios antes mas talvez esse seja um de seus mais importantes, justamente pelo simbolismo de tudo isso e a importância de ser o primeiro Rap a ganhar dois dos principais prêmios em 61 edições do Grammy. Isso é história sendo feita.


A vitória é muito maior do que parece, ao passo que a música reflete a realidade encontrada em todo canto do mundo, basta olhar ao redor. Não é necessário procurar explicações para tudo que o vídeo e a música quer dizer, toda história humana e nosso dia-a-dia já exemplifica demais.


Não sou a pessoa certa para falar disso, ainda mais por ser só mais um cara branco de classe média, mas é bom demais ver algo tão poderoso assim ganhar todo esse reconhecimento. Nos dias em que vivemos, principalmente.


Essas são as Américas, não dá mole não.

Tags:

Logo do Jornal Metamorfose
bottom of page