- Gabriell Araújo
O impacto de ‘’Sulicídio’’ na cena do rap nacional
Cultura

Em 29 de agosto de 2016, as estruturas do rap nacional foram abaladas pela música ‘’Sulicídio’’, autoria de Baco Exu Do Blues e Diomedes Chinaski. Após anos desde o seu lançamento já é possível ter uma visão concreta dos resultados da coragem de dois rappers nordestinos desconhecidos até então. Para entendermos o propósito, é necessário compreender de antemão que essa música é categorizada como uma ‘’diss’’, canção que tem como objetivo atacar e insultar verbalmente pessoas ou um grupo específico.
O rap nacional difundiu-se dentro da comunidade através de um contato direto com os grupos marginalizados da sociedade, sobretudo os negros, os pobres e os moradores da periferia, por isso o gênero absorveu para a sua cultura características dessa coletividade. Para compreender é necessário apenas observar as letras do grupo Racionais MC's, pois músicas como “Negro Drama", “Diário de um Detento” e “Vida Loka” retratam de forma fiel a realidade desse corpo social marginalizado. A partir de um determinando momento dos anos 2000 algumas características do rap foram adaptadas para o consumo das massas, por isso perdeu muito dos seus princípios.
Entretanto, a produção musical concentrava-se nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e o restante do país era visto apenas como consumidores; esse fato foi o responsável pela a revolta que podemos observar em ‘’Sulicídio’’, no verso: “Nordeste no topo, do topo, do topo, fazendo dinheiro e viajando o Brasil”, interpretado por Diomedes Chinaski, revela o interesse em chamar atenção do restante do país para o rap nordestino, além disso, a música resgatou com fervor diversos valores da cultura marginalizada que tinham sido abandonados para que fossem produzidas mais comercializadas.
O enorme mal estar causado pelos ataques com força e agressividade foram capazes de abrir espaço para que o restante do Brasil fosse capaz de alcançar o público nacional. Um dos rappers que foi beneficiado e cresceu durante esse período é o FBC, integrante do grupo D.V Tribo de Belo Horizonte, em uma entrevista ao Rap Box ele diz: ‘’O rap do Brasil precisa disso (...) o conflito é necessário para a evolução de muitos’’.
Hoje, podemos afirmar que Baco Exu Do Blues é um dos maiores nomes do rap nacional, a revista Rolling Stone elegeu ‘’Bluesman’’ como o melhor álbum de 2018, um ano após sua estreia cercada de elogios com o disco ‘’Esú’’, em 2017. Para coroar a coragem de enfrentar a indústria musical, Diomedes Chinaski também fez sucesso com sua mixtape ‘’Comunista Rico’’ lançada no ano passado (2018), também considerado um dos melhores álbuns aclamado pela crítica.
Podemos concluir que, o maior beneficiado pelo o ‘’Sulicidio’’ foi o público do rap, da ousadia de dois rappers desconhecidos surgiram diversos grupos e mc’s que desenvolveram e evoluíram o gênero que vem constantemente crescendo no Brasil e no mundo.