- Gabriell Araújo
A qualidade de vida dos idosos em confronto com a previdência social
Sociedade

No século XXI as doenças psiquiátricas têm sido amplamente discutidas e uma constantemente citada é a depressão, que em casos extremos pode levar ao suicídio, um fenômeno que atinge cerca de 800 mil pessoas anualmente de acordo com dados de 2015 da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em especial os idosos, pois se trata de uma faixa etária que tende a crescer, somado ao despreparo de grande parte da sociedade para com a maioria dos indivíduos longevos um dos pontos mais impactantes nas próximas décadas é a Previdência Social, que de maneiras distintas o trabalho e a questão financeira são decisivos para a qualidade de vida dos idosos ao longo da sua aposentadoria.
O livro ‘’O Suicídio’’ do sociólogo francês Émile Durkheim, trabalha a concepção de que crises econômicas são agravantes para a propensão do suicídio, já que são uma perturbação da ordem coletiva e uma ruptura de equilíbrio. Por isso, a perda na segurança financeira e problemas relacionados ao círculo social onde o aposentado está inserido pode ser gatilho para diversos problemas psicológicos significativos, principalmente dentro de uma comunidade que não está preparada para lidar com uma grande quantidade de idosos no convívio social, familiar e principalmente trabalhista.
Com o avanço da idade, situações simples e rotineiras se tornam atividades extremamente complexas e exaustivas, os moldes da nova previdência exigem que o proletariado idoso faça atividades que já não são possíveis pela idade. A total falta de preparo da sociedade não contribui de nenhuma maneira, pois muitas vezes os sexagenários são tratados como crianças quando na verdade são adultos com capacidade de tomar decisões, ou seja, de forma geral a comunidade muitas vezes age com pensamentos estereotipados, preconceituosos e desrespeitosos com os mais velhos.
Torna-se muito preocupante por exemplo a situação dos professores, afinal exigirão que em uma profissão árdua, desvalorizada e estressante o trabalhador cumpra 40 anos de contribuição para que assim receba 100% da aposentadoria. Porém, desconsideram que os educadores cumprem jornadas duplas de trabalho sob grande pressão, o que resulta na possibilidade ainda maior de doenças psíquicas.
Além disso, há indícios que o regime de capitalização da previdência chilena que foi posto em prática há 30 anos e que muito se assemelha com a reforma proposta no Brasil através do Ministro Paulo Guedes, sofre hoje com um aumento do suicídio dos idosos identificado por uma pesquisa de três organizações chilenas, o Ministério da Saúde, Estudo Estatísticas Vitais e o Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Essas três entidades concluíram que entre 2010 e 2015, 936 adultos com mais de 70 anos cometeram suicídio. Ademais, a mídia privada detectou que aqueles que possuem mais de 80 anos apresentam taxas de 17,7 por cada 100 mil habitantes, isso em muito supera a média do continente.
Nesse caso, estudos que levaram em consideração essas questões analisaram casos de declínio na vida social somado a queda no padrão socioeconômicos. ‘’Os suicídios masculinos foram causados por estresses socioeconômicos, declínio na vida pessoal, profissional e social, quando uma queda gradual no padrão socioeconômico abalou a identidade masculina’’, explica o artigo Diferentes faces da depressão no suicídio em idosos de Fátima Gonçalves Cavalcante, Maria Cecília de Souza Minayo e Raimunda Matilde do Nascimento Mangas.
Assim, a questão do suicídio é extremamente preocupante e deve ser considerada, pois mesmo o ato mais privado de um indivíduo – que é o suicídio - é influenciado por determinações e influências sociais. Por isso, antes de qualquer proposta econômica que vá afetar os idosos de forma tão direta como à reforma da previdência deve-se discutir maneiras de possibilitar a menor influência negativa possível, além disso, existe um longo caminho para que a sociedade percorra para estabelecer relações que possibilitem uma melhor qualidade de vida para os anciãos.