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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Ufa, acabou a abstinência

Botequim Literário

Volante Paulinho abraça torcedor ao marcar gol histórico contra o Vasco na Libertadores, em 2011



Amigo leitor, amigo boêmio, só de saber que o Brasileirão nosso de cada dia já voltou me sinto mais leve. Digo isso como um escriba gutemberguiano, imagina o sentimento do torcedor que não aguentava ver os jogos disputados no velho continente. Agora a ressaca dominical terá remédio e boêmio no meio da semana, desculpa para beber uma.


Nem preciso lembrar que ficamos durante bom tempo com uma seríssima abstinência, não é mesmo? Fomos tomados por graves sintomas, como falação constante das lambanças daquele zagueirão ruim e jogaços do ano passado (aqui inclui, infelizmente, o vexame do escrete canarinha diante da ótima ‘geração belga) e cornetar o brother rival.


Calma. Com a volta dos jogos no meio e final de semana, surge aquela desculpa para beber uma após o trampo, porém os problemas com a patroa em casa aumentem. É o efeito colateral. Isso porque na cabeça delas é difícil entrar que você estava com o tiozão da família e amigos tomando uma para comemorar o resultado, ou para protestar uma atuação pífia.


Para convencê-las do contrário é necessário invejável esforço retórico e sentimental. Se tudo for para o inferno, como na música antiga do Robertão, sucesso na década de 1960, lembre-se do velho mantra que cantei aqui neste espaço: se a vida dói, drinque caubói. Só isso para levantar a cabeça e encarar a perda da amada e os rumos reacionários que nosso país vem trilhando.


Digo mais: o futebol está para o brasileiro assim como a tequila para o mexicano. Extravasar quando nosso time faz o gol é um ritual cultural, impossível discorrer sobre a formação da identidade nacional se não passarmos pelo esporte bretão. Gilberto Freyre, o cara que escrevera o clássico Casa Grande & Sensala, que o diga, né? Paulo Mendes Campos e seu O Gol é Necessário, baita cronista da porra.


Haja coração, logo de cara tivemos de suportar a agonia assistindo o Derby Paulista. Sempre é um jogaço do cacete, eita o que a abstinência futebolística não faz com um torcedor. O desalmado esquece que a vida em sociedade é regida por normas, está tudo válido, até gritar na rua pelado ou chorar no colo do crush. Cumpre-se.


Hoje, por aqui, é sem clássicos nos gramados. Mas o glorioso Vila entra em campo para enfrentar o Goianésia, em partida válida pelo goianão. Todo fã de futiba sabe a importância do tigrão da Vila Famosa para a formação da identidade cultural goiana e goianiense, vale simplesmente tudo nas arquibancadas do Serra Dourada: cuspir para o campo, bradar impropérios, dentre outras coisas.


Ufa, acabou a abstinência.

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