Marcus Vinícius Beck
O futebol nas ondas radiofônicas
Botequim Literário

Torcedor aflito ouvindo partida de futebol através das ondas radiofônicas (Reprodução/ Carta Capital)
Amigo torcedor, por gentileza, deixe-me salientar meu lado saudosista: o rádio foi deixado de lado nas partidas de futebol. Antes, sintonizava-se numa estação para acompanhar os jogos do time do coração. Hoje, as transmissões mudaram um pouco e a imagem passou a rondar o imaginário do torcedor, que comporta-se como um bêbado em frente a uma latinha de cerveja, se não consegue vê-las, no pós-jogo.
Se Nelson Rodrigues e Paulo Mendes Campos temperaram o jogo com suas palavras dramáticas e líricas, nas décadas de 1950 e 1960, o rádio emocionou os torcedores – e, creio, deve ter infartado vários deles naqueles jogos decisivos. Contudo, o futiba informatizou-se como as redações, a música, a literatura. Inclusive, Nelson dizia que o vídeo-taipe era “burro” e foi responsável por deixar o certame chato.
Seu Odinir Tavares, corintiano desde a década de 1960, período em que o Timão amargava jejum de títulos, descreve as Copas de 58 e 62 como “emocionantes”. Segundo ele, não tinha como ver Garrincha e a gente apenas imaginava o que ele fazia em suas jogadas de gênio. “A gente tinha de imaginar as firulas de Garrincha e os golaços de Pelé nas Copas de 1958 e 1962”, conta ele.
Outro dia no bar um sujeito achou estranho quando lhe contei que ouvi o último jogo do Corinthians no rádio ao invés de assisti-lo. Uai, por um acaso isso é coisa de outro mundo? A torcida do Palmeiras, após o clube paulista brigar com a Globo por não aceitar que o Timão e Flamengo ganhassem mais da emissora carioca, teve de se acostumar com o método mais antigo de ver o futiba nosso de cada dia.
Mas, antes de mais nada, tenho de contar algo: não consegui vibrar com a voz de Osmar Santos, no título de 1977, aquele mesmo que acabou com o jejum de 23 anos do coringão, quando Basílio soltou o pé e mandou a pelota para o fundo das redes, jogando a tal zica de conquista para o lado. De fato acredito que sou masoquista, pois vá curtir sofrer assim lá longe, como cantou a rainha Rita Lee.
Bem como eu ia te dizendo, nem todos conseguem ficar com os ouvidos vibrados nas ondas radiofônicas. No entanto, eu consigo, pois aprendi a gostar de futebol no rádio que meu avô tinha, no interior do Paraná. Somos corintianos, e em minha cidade não havia como ver jogos do Timão, já que morávamos em Ponta Grossa, uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes, próximo de Curitiba.
Mas o que eu estava falando, no início desta crônica, era sobre a delicadeza de se acompanhar futebol pelas ondas radiofônicas. Em 2012, nas oitavas de final da Libertadores, o Corinthians enfrentou o Emelec, fora de casa, e eu, meu avô, meu tio e irmão torcemos com ouvidos atentos numa vitrola 3 em 1, das antigas, que havia em nossa casa.
Foi sofrido, mas valeu o martírio! Ouvir futebol nas ondas radiofônicas é como dar beijo numa garota com o som de Taiguara sendo reproduzido nas alturas no alto falante. Sem mais! Até a próxima crônica do lirismo alvinegro. Grande abraço!