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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Viva Chico Buarque!

Crônica


Êpa, senhoras e senhores: Chico Buarque recebeu o prêmio mais importante em língua portuguesa, o Camões. E mal o estagiário subiu a notícia no portal de notícia para que um dos maiores ícones da música popular brasileira fosse achincalhado com comentários furiosos. Chico Buarque fatura importantíssimo prêmio literário, que este jovem cronista conservado em barril de carvalho repete e retuita aos borbotões.


É verdade que o compositor, cantor, dramaturgo, poeta e escritor não seja necessariamente uma unanimidade nacional tal como diria o titio Nelson Rodrigues, mas, calma lá colega, esse ódio todo ao cara (estimulado pelo maior monopólio de televisão do País) é sintoma de uma doença que corrói de vez toda noção que temos do que seria delicadeza. Digo e repito: nosso País tem de amar, reverenciar, ouvir, curtir e cantar Chico Buarque de Holanda.


Precisamos amá-lo com aquele tesão que sentimos pela (o) crush, precisamos voltar a amá-lo com afeto tal como estivéssemos no colo da amada, precisamos voltar a amá-lo com paixão e ternura exatamente do jeito que fazemos num jantar a dois, precisamos voltar a amá-lo de todas as formas. Inclusive, dá licença desapontado leitor (a) para o óbvio ululante: precisamos mais do que nunca evocar o famoso legado do maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos, Nelsão: Chico, perdoem-nos por te traíres.


O Brasil, mergulhado num delírio cotidiano que nem o surrealista Luís Buñuel seria capaz de explicar, precisa ardentemente, todavia não de forma sadomasoquista (lembra dos contos do taradão francês Marquês de Sade?), sentir orgulho do prêmio Camões conquistado por Chico. Por tanto amar, digamos assim, acho que o País precisa saber da importância do ser Francisco não apenas por notícias que vem do outro lado do atlântico.


Chico é foda, mas tão foda que está no rol literário de gente como o escritor Raduan Nassar, autor de “Um Copo de Cólera”, um dos melhores romances já escritos por aqui. Sim, eles ganharam o cobiçado Prêmio Camões! Que revivamos a delicadeza perdida, como no genial documentário dirigido por Walter Salles e Nelson Motta, em 1990.


Sem essa. Deixa de lado a paranoia coletiva de que Chico Buarque teria recebido grana via Lei Rouanet. Ora, o cara nunca pegou um tostão sequer do principal mecanismo de fomento à cultura no País. Só rindo dessa galera que chama um dos maiores artistas do planeta de velho, bêbado, petista, comunista, vagabundo, mamador nas tetas do governo. Só rindo mesmo, embora não devamos dar palanque para malucos.


Pelo prêmio lindamente faturado por Chico Buarque, mas não só por isso, vamos amar o nobre Francisco. Pelo conjunto de sua obra, pelo versos de “Ópera do Malandro”, brilhantemente interpretados pela atriz Letícia Sabatella em vídeo disponível no youtube com o título “Geni e Zepelim”, vamos amar o nobre Francisco. Pelo posicionamento lúcido em tempos onde a ignorância se alastrou, vamos amar Chico Buarque.


Parabéns pelo prêmio Camões e por tudo o que representas para a arte nas terras tupiniquins... terras tupiniquins, não: por tudo o que representas para a humanidade – ainda que sejas aos olhos dos aloprados um sujeito horripilante. Vamos amar Chico, senhoras e senhores.

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